segunda-feira, 26 de abril de 2021

Leituras: Segundo Manifesto pela Filosofia

Em tempos de polarização entre ciências e negacionistas um manifesto pela Filosofia parece deslocado da realidade. Há tempos que a Filosofia foi colocada pela nossa sociedade no campo das coisas inúteis ou supérfluas. Tanto que os esforços para retirá-la da grade curricular obrigatória da Educação Básica no Brasil, foram enormes. Mas não se engane, pois esse não é um fenômeno só do nosso país. Reformas educacionais em países como a Espanha também reduziram o espaço da Filosofia no sistema de Ensino.

É nesse contexto que o Filósofo francês Alain Badiou lançou o Segundo Manifesto pela Filosofia. Trata-se de uma atualização do Primeiro Manifesto lançado há 20 anos. Para o nosso filósofo é necessário manter o otimismo do pensamento no cenário atual. Pois qualquer perspectiva de mudança não será possível sem a força do pensamento. De modo que a Filosofia se posiciona como mais necessária do que nunca, se colocando como uma barreira ao processo de emburrecimento que querem nos impor, sobretudo a partir de uma mentalidade tecnicista.

De acordo com Badiou, no campo dos saberes, o que nos querem enfiar goela abaixo é uma mistura de um cientificismo tecnologizado e um legalismo burocrático. O primeiro se caracterizada por uma visão dos cérebros como um simples objeto. Já o segundo se expressa na forma suprema da “avaliação” que faz de todos especialistas saídos de parte nenhuma, que concluem invariavelmente, que pensar é inútil e até prejudicial. 

Para o nosso filósofo é preciso reafirmar a potência afirmativa da ideia. Por isso o seu esforço nesse segundo manifesto pela Filosofia é mostrar que: Se a Filosofia pode ser o que você deseja que ela seja. É preciso ver realmente o que você vê. Isto é, será se realmente compreendemos o que é a Filosofia e qual o seu papel? Como podemos dizer que algo é inútil ou supérfluo se não o conhecemos de fato? 

Ao longo do seu segundo Manifesto pela Filosofia, Badiou irá abordar esse problema a partir do desenvolvimento dos seguintes pontos: 1- Opinião; 2- Aparição; 3- Diferenciação; 4- Existência; 5- Existência da Filosofia; 6- Mutação; 7- Incorporação; 8- Subjetivação; e 9- Ideiação. Tudo isso seguindo um estilo matemático e as regras clássicas do discurso. 

 Alain Badiou é uma referência contemporânea no campo da Filosofia. Tendo uma trajetória marcada pela docência e pela militância política. Nascido no ano de 1937 em Rabat no Marrocos. Filho de um Professor de Matemática – que também foi Prefeito de Toulouse e atuou na Resistência Francesa. Badiou exercesseu a docência na Universidade de Paris VIII, tornando-se posteriormente Professor emérito da École Normale Supérieure de Paris. Na sua trajetória acadêmica orientou nomes como Slavoj Zizek e Vladimir Safatle. 

Na militância política atuou no Movimento de Maio de 1968 na França, além de ter ajudado a organizar e participar de organizações como L’Union des Communistes de France Marxiste-Léniniste (UCF-ML). Entre as suas obras publicadas destacamos: Em busca do real perdido (2015), O ser e o vento (1988), Elogio ao amor  (2013) e “A República de Platão  (2013). Além da Filosofia, Badiou se envereda por outros gêneros literários como o Romance.

Alguns estudiosos da sua vasta obra dizem que um problema fundamental do nosso filósofo é acerca do sujeito. Podemos perceber isso no Segundo Manifesto pela Filosofia. Badiou defende a força do pensamento justamente por acreditar que este é o caminho para que o sujeito submetido a uma sociedade onde todos são homogeneizados – transformados em meros consumidores – possa se libertar. 

Se libertar das amarras de um sistema dominante que busca fazer desaparecer o exercício do pensamento, que cultua o mercado e nos impõem uma vida sem criatividade, com um mundo simbólico engolfado, sem poesia e repetitiva. Amarras que se fortalecem a partir da dinâmica de um mundo cada vez mais digital. Nessa linha, um artigo publicado recente no El País, com o título de “Más filosofía no mundo digital”,  vem de encontro com o manifesto do Badiou.

No artigo do El País, o Professor Eduardo Infante crítica a educação na nossa sociedade por castrar uma postura contestadora por parte dos estudantes: “En nuestra educación se castiga a todo aquel que se atreva a cuestionar, a poner en duda a pensar por sí mismo; y se premia la obediencia y la sumisión. Cuando llegan a los cursos superiores, la capacidad de asombro, la curiosidad y la duda están prácticamente muertas, desactivando con ello todo el potencial emancipador de la filosofía. ¿Qué importa que, para entonces, concedamos a nuestros jóvenes la libertad de expresión cuando hemos anulado su libertad de pensamiento?".

Diante dessa reflexão, concluímos afirmando a importância do Segundo Manifesto pela Filosofia do Badiou. Em tempos de falsos dilemas, falsos embates, manipulações, fake news e reducionismo. A Filosofia se coloca cada vez mais necessária como condição sine qua non para resistirmos ao autoritarismo e a desumanização que avança a passos largos.

Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 

terça-feira, 20 de abril de 2021

Direitos Humanos como disciplina no Ensino Fundamental?

Está em discussão na Assembleia Legislativa do Tocantins um Projeto de Lei que inclui na grade curricular do Ensino Fundamental o componente curricular de Direitos Humanos. A proposta é interessante por chamar atenção para uma questão importante, sobretudo no contexto brasileiro onde a discussão em torno da temática dos direitos humanos é carregada de preconceitos.

Quem nunca ouviu a famosa acusação tão comum no nosso cotidiano de que defender os direitos humanos significa defender direitos de bandidos. Ou provocações do tipo: - cadê o pessoal dos direitos humanos?! -Isso é culpa do pessoal dos direitos humanos que ficam passando a mão na cabeça. Essa visão distorcida, acerca dos direitos humanos, vem sendo construída há décadas e contribuí para normalização da violação dos direitos da Pessoa humana, sobretudo pelo Estado.

A partir daí percebemos que há uma intencionalidade por parte de setores da sociedade nesse processo. Não é interessante para esse setor que viola ou promove a violação dos direitos humanos uma sociedade que se oponha de forma consciente a essa violação. Já os demais que reproduzem esse discurso não percebem que ao negar os direitos humanos estão negando os seus próprios direitos enquanto ser humano.

Para compreendermos melhor esse ponto é interessante trazer o poema Intertexto do Bertold Brecht: “Primeiro levaram os negros/Mas não me importei com isso/Eu não era negro/Em seguida levaram alguns operários/Mas não me importei com isso/Eu também não era operário/Depois prenderam os miseráveis/Mas não me importei com isso/Porque eu não sou miserável/Depois agarraram uns desempregados/Mas como tenho meu emprego/Também não me importei/Agora estão me levando/Mas já é tarde./Como eu não me importei com ninguém/Ninguém se importa comigo.” 

Brecht nos mostra onde a indiferença nos leva. E se tem algo que caracteriza o discurso antidireitos humanos é a indiferença alimentada pelo ódio e o desprezo. Infelizmente para alguns indivíduos eles só compreenderam a importância exata dos direitos humanos quando necessitarem. Mas ai pode ser tarde.

Nesse contexto é essencial que os direitos humanos não só esteja no currículo da Educação Básica, desde o ensino fundamental como propõem o Projeto. Mas que também seja vivenciado, sobretudo nas relações extraclasse. Isso é em resumo o que defendo num artigo que escrevi para conclusão do Curso de Especialização em Filosofia e Direitos Humanos, intitulado de “Os afetos que circulam entre os muros da escola: A importância da Ética para Promoção dos Direitos Humanos”.

Creio que essa abordagem deveria ser feita a partir de uma perspectiva filosófica, especialmente do campo da Ética. De modo que tenderia a discordar da criação de uma disciplina específica de Direitos Humanos, sobretudo na linha que propõem o projeto apresentado na Assembleia Legislativa do Tocantins, mais voltado para noções de direitos. Melhor seria, assim como na Inglaterra e outros países Europeus, tornar obrigatório o Ensino de Filosofia no Ensino Fundamental. 

Ora é impossível falar em direitos humanos sem entender as concepções filosóficas que os fundamentam. Até por que em última análise o que define a nossa conduta diante desses direitos não é a legislação mas sim a moral vigente.

De qualquer forma a ideia do Promotor de Justiça de Paraíso – Paulo Alexandre Rodrigues Siqueira que culminou no Projeto apresentado pelo Presidente do Legislativo Tocantinense – Antônio Andrade. Tem o mérito de pautar essa discussão importante, sobretudo num contexto em que o discurso antidireitos humanos ganhou força com o discurso de ódio e as fake News.

Desse modo é importante que o mesmo avance e que a sociedade civil organizada seja chamada para discuti-lo.

Por Pedro Ferreira Nunes – É Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Ética e Vacinação

Como era de se esperar a vacinação da população brasileira segue a passos lentos. Já não bastasse a dificuldade de adquirir um artigo tão disputado pelo mundo inteiro. Soma-se a isso a postura do Governo Bolsonaro que sempre negou a gravidade da pandemia e a eficácia da vacina. De modo que esperar outro resultado diferente do que estamos vivendo é um tanto de ingenuidade. 

Nesse cenário de escassez de vacinas e que a pandemia golpeia ferozmente a nossa população. Não é de se admirar ações oportunistas buscando tirar algum proveito da situação. No Tocantins essas ações tem partido de parlamentares apresentando requerimentos para que seja priorizado algumas categorias profissionais no organograma de vacinação. Diariamente a impressa local da notícia de um novo requerimento apresentado nesse sentido – que servem mais como marketing político do que para qualquer outra coisa já que no momento atual as doses de vacina disponível não está dando nem para os atuais grupos prioritários.

O esforço coletivo deve ser a imunização de todos. De modo que quanto mais fragmentarmos a população em grupos prioritários mais difícil será de se alcançar esse fim. Enquanto isso não é possível devemos reforçar as medidas de biossegurança como o uso de máscaras, a higienização das mãos com álcool em gel e o isolamento social. Isso acompanhado de um auxílio financeiro decente para as famílias que estão em situação vulnerável. Pois não é possível falar em biossegurança sem garantir comida na mesa para quem não tem.

Podemos dizer então que estamos na contramão do que é necessário. A nível Federal o Governo Bolsonaro com o aval do Congresso Nacional aprovou um auxílio emergencial de míseros R$ 250,00. A nível regional nem isso – apenas um mísero kit de alimentação e higiene. Não se vê por parte dos nossos parlamentares nenhum movimento para garantir comida na mesa dos Tocantinenses que estão passando fome – nenhuma iniciativa para criar um auxílio emergencial local (com exceção de Palmas que anunciou nessa terça-feira 13/04, a criação de um auxílio emergencial de R$ 200,00).

Nesse contexto chamamos atenção para questão Ética. Nessa pandemia falou-se muito sobre ciência e negacionismo. Inclusive a humanidade foi dividida nesses dois campos. Esqueceu-se no entanto que o que define nossas ações é a nossa conduta moral. É a partir da Ética que conseguimos compreender por que agimos de determinada forma e não de outra. É a partir da Ética que conseguimos compreender onde chegamos. E inclusive projetar o que está por vim. 

Se estamos na situação que nos encontramos hoje é consequência da conduta Ética do Governo Bolsonaro mas também de parte significativa da população brasileira. Se essa conduta não for mudada certamente o resultado esperado não pode ser diferente. Conhecendo o Governo não podemos esperar por essa mudança de conduta, por tanto não temos alternativa se não arranca-lo da Presidência da República. Isso não resolverá todos os nossos problemas, mas dará uma guinada importante. 

Em relação a imunização da população através da vacinação é preciso rechaçar essas condutas oportunistas como a dos parlamentares Tocantinenses. Repetindo o que já foi dito anteriormente, o esforço nosso deve ser por: Vacina para todos. Qualquer iniciativa contraria é perda de tempo, seguindo a linha do que disse a Médica Pneumologista Margareth Dalcomo em entrevista ao El País ao criticar a medida aprovada na Câmara do Deputados que autorizou a aquisição de vacinas por iniciativa privada (medida que contou com 7 votos favoráveis dos 8 parlamentares federais que temos).

O que os parlamentares fizeram foi legalizar a conduta dos empresários Mineiros que estavam tentando uma imunização dos seus de forma “Não oficial”. E que merecidamente foram enganados por uma falsa Enfermeira que aliás deveria ganhar uma medalha por nos revelar a Ética desses senhores. A partir daí podemos compreender a motivação dos deputados ao votar no projeto – certamente não é a busca do bem comum.

A pandemia revelou mais do que nunca a nossa substância Ética. E isso não se modificará da noite para o dia. Infelizmente parece que a visão pessimista do Filósofo Sul-Coreano Byung Chu Han sobre o mundo pós-pandemia, pelo menos a curto prazo, é o que prevalece. Se quisermos modificar essa realidade, trabalhar a Ética na escola é mais do que necessário. É a partir da educação que podemos vislumbrar uma substância Ética diferente do nosso povo no futuro.

Por Pedro Ferreira Nunes – É Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 

sábado, 10 de abril de 2021

Resenha: Sexs Pastels e o Punk Rock do Gatillazo

 El fin del mundo está a punto de llegar

y los culpables (aparte de tú y yo)

la ultraderecha imbécil, el dinero y dios.

Gattilazo

Como um amante do rock, sobretudo punk e metal, ouço qualquer novidade que caia em minhas mãos. No entanto nem tudo fará parte da minha play list de cabeceira. Esta é um tanto restrita (o mesmo se sucede com relação a livros e filmes). E para esse círculo restrito, essa banda de punk rock espanhol que conheci recentemente, já faz parte. Trata-se da Gatillazo, creio eu não muito ouvida no Brasil, mas pelo que vi pelos números de visualizações no YouTube, bastante apreciada na Espanha e em países de língua espanhola como o Chile.

Encontrei os caras por acaso na internet e afetado pelo som e pela performance do seu vocalista (Evaristo Páramos) me fez imediatamente buscar mais coisas sobre a banda. E na medida que eu ia os conhecendo, mais os apreciava. Baixei então um disco gravado de uma performance ao vivo deles intitulado de “Sexs Pastels” (a referência a banda britânica Sexs Pistols não é mera coincidência), e desde então tenho ouvido cotidianamente. 

Carregado de ironia e sarcasmos eles destilam uma crítica contundente ao capitalismo, ao fascismo, ao nacionalismo e a monarquia através de suas letras acompanhadas de um som veloz.

A banda foi formada em 2005 por ex-integrantes de outro grupo de punk rock espanhol (La Polla Record). Tendo como integrantes na sua formação atual: Evaristo Páramos – vocais, Txiki – guitarra, Tripi – bateria, Butonbiko – baixo e Angel – guitarra. 

Em “Sexs Pastels” temos a banda numa grande performance num estúdio ao vivo. No melhor estilo punk rock, como um soco no estômago, tocando um petardo atrás do outro em 1 hora e 10 minutos. 

Para começar temos “Pánfilo panfleto ataca de nuevo” onde criticam as mudanças de liberdade prometidas pelo capitalismo aos países que rompem com sua política: “Cuando el neoliberalismo rompe una revolución. La verdad salta a la vista. Que la violencia es la que sostiene el sistema capitalista”. Violência para impor uma ordem pior que a anterior. Em seguida temos “Asín es la vida” onde falam da postura conformista dos indivíduos diante de tanta miséria: “Qué podemos decir dice la mayoría (Así es la vida), qué le vamos a hacer si no hay solución (Así es la vida), no queremos saber, no hay ninguna salida (Así es la vida)”. Assim é a vida e temos que nos conformar pois nada irá mudar. É exatamente esse tipo de postura que a classe dominante espera de nós. 

Em “Con perdón” eles criticam a postura de quem muda de posição ao obter algumas benesses do poder: “Cuando era más joven yo te quería matar, era un intolerante fácil de adoctrinar, pero ahora he cambiao, se lo que hacer, y que decir y digo: Viva españa y viva el rey – viva dios, viva la ley, al servicio y siempre fiel mi constitución”. Na canção o exemplo é em relação a monarquia espanhola. Mas também serve para outros posicionamentos oportunistas.

Na sequência temos “Tortura”, onde denunciam a opressão contra quem ousa se rebelar contra sistema, ainda que “democrático”: Incomunícame, encapúchame, trasládame. Aterrorízame, golpéame, amenázame. Hazme perder la noción de la realidad. Hasta que firme tu declaración. “Buen Menú” é a próxima. E desse ironia sobre a violência institucional: Menú bien equilibrado, nutritivo y muy variado. Entremés de asesinato, vamos con el primer plato: Sopa de comportamiento desviado y agresivo, ensalada de desgracias sencilla o mixta con tropezones de policía. Bocaditos de estudiante... puré de represión”.

Bem camaradas, já deu para sentir que os caras não estão de brincadeira, e não estamos nem na metade. No entanto vamos parando por aqui, pois creio que já deu para perceber o posicionamento político da banda através da sua música, em especial do seu vocalista Evaristo Páramos – que é uma referência na luta anticapitalista Espanhola. Antes gostaria de destacar três canções que estão em “Sexs Pastels”, que foram as que me fizeram prestar mais atenção nas letras das músicas. Trata-se de “Ya no quiero ser yo”,  “Comunicado Empresarial” e Ridículo.

Na primeira eles falam da alienação que nos é imposta pelo sistema dominante, uma alienação que nos leva a deixar de ser quem somos. “Me he mirado en el espejo y no me he reconocido. En el extraño que se ve tras el cristal. Si el pasado y el presente se reflejan. Y no mienten tengo que hacer algo por mi porvenir. Ya no quiero ser yo. Ya no quiero ser yo. Ya no...”. É sem dívidas uma bela letra. Na segunda eles falam da substituição da mão de obra do operariado por máquinas, isso a partir do ponto vista patronal: Nunca más vais a tener trabajo ya no os necesitamos más. Porque es mentira que se trate de una crisis. El trabajo está muerto y éste es su funeral. Y se acabó, es el fin. Ya nadie necesita al proletario feliz”. Aqui salta a vista a visão da burguesia acerca dos trabalhadores como coisa que quando não serve mais deve ser descartado. Na terceira é uma crítica contundente ao cristianismo, sobretudo as suas instituições: “Cristiano muerto, matón cristiano querido soldado de cristo. Cristiano amado, amor cristiano todos los judas te besaron. Seáis bienaventurados mercaderes del señor, él os manda acumular”. Aqui a mercantilização da fé é o ponto chave.

É isso camarada, se você aprecia um bom punk rock (anticapitalista). Gatillazo não irá ti decepcionar. Em tempos de avanço da ultradireita, suas canções são gritos de resistência que merecem ser ecoados no mundo todo. Pois como eles alertam em Hsuícidio: “El fin del mundo está a punto de llegar, y los culpables (aparte de tú y yo), la ultraderecha imbécil, el dinero y dios”.

Pedro Ferreira Nunes é – Educador, Poeta e Escritor Popular 

terça-feira, 6 de abril de 2021

A Plataforma Escolas Conectadas e o desafio da Formação Continuada

As mudanças que tem ocorrido no campo educacional em decorrência da Pandemia de COVID-19 veio mostrar a importância da formação continuada no cotidiano dos educadores. Sobretudo ao possibilitar a aquisição de novos conhecimentos e a apropriação de ferramentas que nos dê condições de responder aos velhos e novos desafios que surgem no nosso cotidiano. 

Em relação a educação em tempos de pandemia podemos dizer que aqueles profissionais que não se acomodaram, certamente, não tiveram grandes problemas com esse negócio de ensino híbrido, aulas remotas (seja através de material impresso ou lives), salas de aulas virtuais entre tantas outras. Já em relação aos que se agarraram as práticas tradicionais, esperando um milagre de que do dia para noite retornariamos a “normalidade”, não podemos dizer o mesmo.

Ora, educar numa perspectiva transformadora exige de nós educadores o desafio constante de não se acomodar. Mas como não se acomodar? Não deixando de aprender, adquirir novos conhecimentos, e se apropriando de ferramentas que nos possibilite propiciar um ensino significativo em qualquer contexto. 

Quando falamos em formação continuada nos referimos sobretudo a concepção defendida por Mészáros no seu celebre “Educação para além do Capital”. De acordo com o Filósofo húngaro uma formação verdadeiramente continuada deve ser obra dos próprios educadores. Somos nós que devemos definir e autogerir a nossa formação. Para tanto podemos nos apropriar das diversas ferramentas e plataformas a nossa disposição, sobretudo no ambiente virtual.

São diversos os espaços que ofertam conteúdos de qualidade. Entre eles destacaria uma que me é mais familiar por ter feito alguns cursos por lá. Trata-se da plataforma Escola Conectadas – onde encontramos diversos cursos ofertados por instituições de Ensino credenciadas pelo Ministério da Educação  (MEC). 

Além do conhecimento há uma infinidade de possibilidades para serem desenvolvidas na nossa prática pedagógica tanto presencial como remotamente – tudo gratuito com direito a certificado.

O Escola Conectadas é uma iniciativa conjunta da Fundação Telefônica Vivo e Fundação Bancária La Caixa, iniciado em 2015, voltado para educadores brasileiros. E tem como objetivo oferecer cursos online de formação para Professores da Educação Básica – cursos que se dividem em duas modalidades: Mediados e autoformativos (Para maiores informações e acesso ao catálogo dos cursos acesse o link: https://www.escolasconectadas.org.br/).

Conheci a plataforma por acaso ao receber um convite para o curso “Escola digital: curadoria de objetos digitais”. Como estávamos num contexto de aula remota a temática me chamou atenção, sobretudo pelo termo “curadoria” que não me era estranho. A partir dessa primeira experiência decidi fazer outros cursos ofertados pela plataforma, entre eles: “Escola digital: tecnologia e currículo” e  “Produção colaborativa do conhecimento: redes para multiplicar e aprender”. São cursos importantes, eu diria que nem tanto pelos conteúdos, mas pelas ideias que nos possibilita desenvolver os nossos projetos.

Além do Escolas Conectadas há uma infinidade de opções para que nós educadores não nos acomodemos com os conhecimentos adquiridos na Universidade. Óbvio, é preciso se apropriar dessas ferramentas de forma crítica. O que significa que não devemos nos tornar meros reprodutores, transmissores de conhecimentos – distante da realidade que estamos inseridos ou utilizar ferramentas inacessíveis aos estudantes. 

Dito isso, é importante salientar que não podemos deixar de lado a luta mais ampla por transformações profundas no âmbito educacional. Sobretudo quando falamos em educação formal, pois por mais que o educador se esforce no sentido de melhorar enquanto profissional, a falta de estrutura e o excesso de burocracia não ajudam. Nesse sentido a formação continuada na perspectiva defendida por Mészáros pode contribuir inclusive para que não se perca de vista esse horizonte de uma transformação radical no âmbito educacional. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Pós-Graduando em Filosofia e Direitos Humanos. 

quarta-feira, 31 de março de 2021

Para dizer que não escrevi sobre Esperança

Poema: A canção 

De repente tudo se fez em silêncio, 

um silêncio absoluto.

Não se ouvia som:

de vozes,

ou de automóveis. 

Do vento,

ou dos pássaros. 

Da criançada brincando na rua,

ou dos vizinhos conversando.

Do movimento nos bares,

ou no comércio em geral.

Era como se ele fosse,

a única alma viva,

naquele lugar.

Ele então se sentiu sozinho,

de uma maneira

como já mais havia se sentido.

Ele então teve medo. 

- Sozinho no mundo? 

O que farei? 

Serei o único sobrevivente desse desastre?

Pensou consigo.

Ele sentiu vontade 

de correr para a rua,

na esperança de encontrar 

com mais alguém. 

Mas sabia que não podia,

não podia sair.

Era preciso ficar em casa.

- Para quê ficar em casa?

Tudo está perdido.

Todos estão mortos.

Não há mais salvação. 

Dizia ele já é entrando em desespero.

E já entrando em desespero, 

lembrou de uma canção. 

Ele então pegou um violão, 

E começou a toca-lá.

“Don’t worry about a thing, 

cause every little thing,

gonna be all right.

Saying, don’t worry about a thing, 

cause every little thing,

gonna be all right...”.

De repente ele ouviu,

uma voz na casa ao lado,

cantarolar a canção. 

Na outra casa,

e na casa em frente também. 

Logo era toda a rua a cantar,

toda a cidade.

Ele então se encheu de alegria,

não se sentiu mais sozinho.

E teve a certeza de que,

tudo ficaria bem,

tudo ficaria bem.


Por Pedro Ferreira Nunes, in Antologia Literária Ruas Vazias - O CoronaVírus em Prosa e Verso. Editora Veloso, 2020.

segunda-feira, 29 de março de 2021

Um olhar sobre a juventude Lajeadense.

 “Eles dizem que você é doente,

e que isso é fase adolescente,

mas não, não vá se entregar.

Dê uma outra chance pra você, 

não se isole por que você, 

Você é alguém...”.

Cólera 

Uma breve nota introdutória 

Esse artigo foi escrito há quase um ano. A ideia era publica-lo ainda em 2020 no Blog Das Barrancas do Rio Tocantins, como uma contribuição ao debate local sobre políticas públicas, sobretudo tendo em vista que estávamos em ano eleitoral. No entanto acabei não fazendo. Faço agora por acreditar que as reflexões que trago, continuam pertinentes.

Políticas Públicas para juventude

“Até quando vou aguentar,/ essa cidade parada,/ que não se movimenta,/ e nem me deixa movimentar?”. Esse verso é do poema “Até quando?” escrito por mim no meu tempo de colegial. Recordei dele quando ouvi de vários jovens lajeadenses frases que remetiam a esse mesmo sentimento. Não pude deixar de pensar comigo: - As coisas não mudaram tanto por aqui. O discurso desses jovens é exatamente o mesmo da minha geração.

É importante destacar que não ouvi isso de uma meia dúzia de jovens mas de algumas dezenas. Desse modo ainda que não tenha o peso de uma pesquisa, creio que temos ai elementos para refletirmos sobre a juventude Lajeadense. Daí o objetivo desse texto – que ele possa ser um estímulo para se buscar ouvir a juventude, pensar, discutir e elaborar políticas para esse segmento da comunidade de Lajeado. 

O episódio relatado aconteceu durante uma dinâmica que desenvolvi nas turmas do Ensino fundamental (6° ao 9° ano) e Ensino médio (1° a 3° Série) do Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência. Eles deveriam responder as seguintes questões: 1- Nome; 2- Onde nasceu; 3- Gosta de...; 4- Lajeado é...; e 5- O que espera da disciplina. O objetivo da dinâmica era apenas estabelecer um contato inicial onde eu pudesse ter uma idéia do perfil daqueles jovens (com os quais iria trabalhar) e a relação deles com a cidade onde moram. Mas ai fui surpreendido com as respostas que ouvi, sobretudo em relação a questão quatro. A surpresa não foi por discordar das respostas mas pela semelhança entre elas e o discurso da minha geração. 

Para no mínimo 90% dos jovens ouvidos Lajeado é uma cidade parada que não oferece oportunidades para que possam se desenvolver tanto no aspecto educacional como cultural. Em suma, uma cidade onde não há política pública para juventude.

É exatamente o mesmo discurso da minha geração, como podem perceber pelo verso do poema “até quando?” de minha autoria, mas que reflete o espírito daquela geração. Para mim isso mostra em grande medida, que apesar das mudanças econômicas e sociais pelas quais a cidade passou (sobretudo após a construção da Usina Hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães), para a juventude as coisas permanecem iguais. E uma das consequências disso é a ausência de um sentimento de pertencimento ao lugar. E quando você não se sente parte do lugar, acaba não se importando muito com os problemas locais e suas resoluções.

Por isso para muitos desses jovens o caminho é jogar uma mochila nas costas e partir em busca de um lugar onde tenham oportunidades para se desenvolver. Depois de algum tempo alguns até retornam, mas a grande maioria não. Outros dividem a vida entre  Lajeado e Palmas. E como a capital oferece oportunidades que não existe no Lajeado, a tendência é esses jovens viverem mais em Palmas e ter Lajeado como um lugar de repouso – uma cidade dormitório.

Esse foi o destino de muitos da minha geração, como também de outras. E se não houver uma quebra de paradigma será também o desta.

Há também aqueles que optam (ou não conseguem sair). Para esses as perspectivas são ainda piores. Sem uma qualificação melhor e um mercado de trabalho escasso não há muito alternativa de escolha. Alguns constituem famílias muito jovens – as meninas engravidam ainda na adolescência e são obrigadas a abandonar a escola – os meninos encontram no álcool e outras drogas ilícitas uma fuga da realidade. Aliás, o alcoolismo e a gravidez na adolescência são duas expressões da questão social muito comum na juventude lajeadense – que não serão extintas sem políticas públicas que enfrente esses problemas.

Diante disso, faz-se necessário pensar em políticas públicas para juventude lajeadense, ou continuaremos perdendo talentos  (e sua energia) que poderiam ser utilizados para a melhoria das condições de vida na cidade, para outros municípios, outros Estados ou ainda pior, para as drogas e para o crime. Isso, no entanto, não significa que o enfoque dessas políticas públicas deva partir da ideia da juventude como problema social, mas sim como sujeitos sociais. 

Seguindo essa linha, é importante destacar a diferença entre essas duas perspetivas. De acordo com Groppo (2017) quando a juventude é tida como um problema social, “ela aparece na figura do perigo, risco ou regressão às drogas, à promiscuidade e a violência”. Já quando o jovem é visto como sujeito social, se reconhece “ a importância de se ouvir, entender e considerar as vozes juvenis no mundo público: na escola, no trabalho e na política, inclusive na formulação das políticas públicas para a juventude”. 

Para Andrade (2010) houve uma mudança, á nível nacional, no que consiste a elaboração de políticas públicas para juventude e a problematização dos diretos dos jovens. De acordo com essa autora “na última década, a juventude conquistou uma posição de destaque na agenda nacional. No campo das políticas públicas específicas para este segmento social, considera-se que o país avançou a passos largos”. Ela ressalta como exemplo a criação do Conselho Nacional de Juventude (CNJ), o Pro Jovem e a criação de estruturas administrativas a níveis estaduais e municipais. Ainda de acordo com Andrade (2010) “direitos e oportunidades são palavras-chaves na linguagem que caracteriza a atual Política Nacional de Juventude. São reafirmados os direitos à saúde, à educação de qualidade, às oportunidades de inserção no mundo do trabalho, à moradia, ao lazer e à segurança, ou seja, consolidam-se políticas que visam direitos universais”. 

Diante disso o desafio é fazer com que essa política chegue efetivamente a toda a juventude brasileira – o que não é uma tarefa fácil, ainda mais com o desmonte do estado brasileiro que tem sido levado a cabo pelo governo Bolsonaro. Nos municípios pequenos como Lajeado então, ainda é mais difícil. Sobretudo pela falta de articulação e organização da juventude para se fazer ouvir pelo poder público local. Desse modo as parcas políticas que existem acaba tendo como visão o jovem como problema social. 

Para se contrapor a esse processo é fundamental que a juventude se articule e se organize (seja em movimentos populares, movimento estudantil, sindicatos, associações entre outros) para reivindicar e lutar pelos seus direitos. Em Lajeado já houve alguma iniciativa nesse sentido, mas que se perderam sobretudo pelo fato dos lideres desses movimentos terem se deixado cooptar. Hoje o que restou foram alguns grupos de jovens ligados as igrejas (católicas e protestantes), mas que não representam e nem tem capacidade de dialogar e organizar a juventude de Lajeado em torno de pautas comuns.

A juventude lajeadense não pode ficar de braços cruzados esperando que a iniciativa de criar políticas públicas parta somente do poder público. Afinal de contas ninguém melhor do que ela própria para dizer o que quer ou pelo menos o que não quer. Aliás, eis aí uma diferença entre a minha geração e a geração atual. Se a minha geração não teve uma participação efetiva na política institucional da cidade, discutindo e contribuindo na elaboração de políticas públicas. Pelo menos não se acomodou e protagonizou movimentos culturais importantes que rompia com a mentalidade conservadora local. Num momento que era bem mais difícil ter acesso a produtos culturais (pois não havia internet, radio, ginásio de esportes e Palmas não era tão acessível como é hoje) não nos acomodavamos e construiamos alternativas para que não tivéssemos que “cortar os pulsos” para escapar do tédio. 

Não se trata aqui de dizer que uma geração foi melhor que a outra (o discurso saudosista do tipo: - Ah, na minha geração as coisas eram diferentes) pois como pontuamos no início o discurso de ambas as gerações acerca do Lajeado não é diferente, a diferença é a atitude. Enquanto aquela geração buscava agir (mesmo com todas as limitações), a geração atual se acomoda. E se fazendo alguma coisa já é difícil mudar, imagine não fazendo nada. 

Isso no entanto não exime o poder público no sentido de garantir, estruturalmente, condições para que os jovens possam se desenvolver. Esse foi um dos limites da minha geração – não ter consciência política para cobrar do poder público direitos e oportunidades para se desenvolver. De modo que se essa geração de agora conseguir alcançar essa consciência, dará um salto significativo.

Nesse sentido o primeiro ponto é desconstruir a visão que se tem acerca da política – uma visão que leva a apatia ou a negação. Uma visão construída a partir de uma compreensão reducionista da política entendida unicamente a partir da briga dos partidos políticos pelo poder, do vale tudo eleitoral e dos desvios éticos.

A política não se reduz às organizações partidárias, às eleições ou à corrupção. De acordo com Aristóteles (1961) “o objetivo da vida política é o melhor dos fins” e o melhor dos fins é a felicidade á qual alcançamos através de uma vida virtuosa. Nesse contexto o papel da política é buscar “com que os cidadãos sejam bons e capazes de nobres ações”. Como podemos perceber, é o oposto do que se compreende por política na atualidade – como um meio para alcançar interesses individuais.

Diante disso, defendo o resgate do conceito clássico de política. Tal como concebida por Aristóteles. Creio que é a partir daí que será possível desconstruir a visão reducionista de política. Ora, para ter uma vida política ativa você não precisa necessariamente estar filiado a um partido político e se candidatar a um cargo público. Para ter uma vida política ativa você deve buscar contribuir para que sua cidade seja um lugar melhor para se viver. Mas como? Você deve estar perguntando. Fiscalizando as ações do poder público, denunciando os desvios e os descasos com os recursos públicos, participando das discussões acerca dos problemas locais, propondo projetos entre outros. Óbvio, essas ações terão mais eficácia se forem frutos de um coletivo e não iniciativas individuais. Esse coletivo pode ser um grêmio estudantil, uma associação, uma pastoral social, um sindicato entre outros.

Nesse contexto enfatizamos o papel da educação – educação compreendida no seu sentido abrangente tal como defendida por filósofos como Mészáros. Nessa concepção de educação o processo formativo não se reduz a escola, pelo contrário. Mészáros ressalta que, muito do nosso processo contínuo de aprendizagem se situa fora das instituições educacionais formais. De modo que se quisermos romper com a lógica educacional hegemônica, não podemos desprezar os diferentes saberes produzidos fora do ambiente formal. Ele no entanto, não nega a importância da educação formal, e inclusive acredita que apartir do momento que ela conseguir estabelecer um  intercâmbio progressivo com outros processos educativos, que não os formais, poderá realizar suas aspirações emancipadora – poderá contribuir para que os jovens possam se conscientizar politicamente. E a partir dessa tomada de consciência lutar pelos seus direitos e por mais oportunidade.

É importante destacar que em Lajeado algumas políticas do poder público local (em especial a garantia de transporte público universitário gratuito) contribuiu para que na última década o número de jovens com uma melhor formação profissional aumentasse no município. Não há números disponíveis acerca de quantas pessoas foram beneficiadas com essa iniciativa. Aliás seria interessante a Secretaria Municipal de Educação fazer esse levantamento, para que tivéssemos uma ideia melhor da importância dessa política. Ainda que não seja uma política exclusiva para juventude ela é a mais beneficiada. Não tenho dúvida que muitos jovens não teriam condições de cursar um curso técnico ou superior em Palmas se não fosse a garantia do transporte gratuito. 

Por outro lado essa iniciativa é insuficiente para atender todos os jovens que concluem o ensino médio todos os anos no Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência. Daí a importância de buscar parceria com instituições de ensino para realização de cursos técnicos e superiores no próprio município. No final de 2019 á prefeitura de Lajeado anunciou parceria com o IFTO (Instituto Federal do Tocantins) para oferta de três cursos técnicos no município na modalidade á distância (EAD), o que sem dúvida é um avanço. Nessa linha é importante que também se pense na oferta de cursos superiores e de pós-graduação. Ainda que na modalidade EAD. 

Conjuntamente com a questão educacional deve se pensar em políticas para aproveitar a mão de obra qualificada que está sendo formada. E isso se dá a partir do investimento em diversas áreas para dinamizar o comércio local e criar novas oportunidades de negócios – como por exemplo no setor de turismo que é sempre lembrado nas campanhas eleitorais – mas só nas campanhas eleitorais. Também tem a pesca, a agricultura, o artesanato entre outros setores que tem potencial para melhorar a economia da cidade e ampliar as oportunidades de trabalho. O que não dá é a prefeitura continuar sendo o maior empregador do município, pois por mais boa vontade que tenha o gestor ou gestora de plantão, é impossível empregar todo mundo que precisa de trabalho na cidade. 

Por outro lado não tem sentido ter mão de obra qualificada na cidade e trazer pessoas de outros municípios para ocupar essas vagas (a não ser que seja por concurso público, onde prevalece o mérito da pessoa e não quem indica e por quê).

Mas como diz os Titãs (a banda) na canção “Comida” – “A gente não quer só comida. A gente quer comida diversão e arte...”. Para juventude então isso é fundamental. E é ausência disso em grande medida responsável pelo discurso de que Lajeado é uma cidade parada. Não há cinema, não há teatro, não há museus, não há exposições artísticas, não há shows musicais, não há livrarias, não há eventos culturais que valorizem a cultura da região (há não ser algo pontual). Em suma, não há eventos artísticos em Lajeado. 

No entanto não quer dizer que as pessoas não se divertem. Até por que não precisam de muito para se divertir – tendo cachaça e som as pessoas se viram. E isso os bares oferecem. Mas se quiser um programa (onde não apenas se divirta mas também aprenda e melhore como ser humano) deve se deslocar para capital. E é o que muitos jovens fazem. 

Diante disso defendemos a necessidade de se pensar em políticas públicas para juventude também no campo cultural – construindo espaços e promovendo eventos para que os jovens tenham acesso a produções artísticas diversificadas. E quiçá futuramente possam se tornar artistas, produzir  e expor seus trabalhos. Talentos a cidade tem, mas esses talentos precisam ser lapidados.

Iniciativas nesse sentido deve ocorrer também no campo dos esportes – que não pode ficar reduzido ao futebol. Lajeado tem diversos talentos em outras áreas como o skate, voleibol, ciclismo, atletismo entre outros que merecem a atenção do poder público.

Enfim, Lajeado precisa avançar muito no que consiste a instituição de políticas públicas para a juventude – políticas públicas que garanta o acesso á educação, saúde,  mercado de trabalho mas também á cultura. Esse é o caminho para que o município consiga evitar que seus jovens tenham que abandonar o lugar por falta de oportunidades. No entanto não acreditamos que isso ocorrerá enquanto a juventude não tomar consciência de que ela é quem deve protagonizar esse processo. E aí quem sabe no futuro quando se perguntar para os jovens o que Lajeado é para eles, teremos uma resposta diferente da atual.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Pós-Graduando em Filosofia e Direitos Humanos. 

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REFERÊNCIAS 

ANDRADE, Carla Coelho de. Juventude e políticas públicas no Brasil. IPEA. Ano 7, Edição 60. Brasília, 2010.

GROPPO, Luís Antonio. Juventude e políticas públicas: comentários sobre as concepções sociológicas de juventude. Desindades. Vol 14. Rio de Janeiro. Mar. 2017.

MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. – 2º ed. – São Paulo: Boitempo, 2008.