sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Crônica: Riquezas culturais da nossa terra

O Chambari e a súcia tocantinense

Por Pedro Ferreira Nunes
Cada região do Brasil, cada estado. - É conhecido por uma característica própria. Pelo sotaque do seu povo, pelos costumes, pela musica, pela comida, pela dança entre outros. Por exemplo, á musica sertaneja e a galinhada em Goiás, o samba e a feijoada no Rio, o acarajé e o axé na Bahia, o Vaneirão e o churrasco no Sul, o forró e o baião de dois no Ceará, o carimbo e o pato no tucupi em Belém entre tantas outras expressões culturais Brasil afora.
Em recente conversa com um camarada pesquisador de musica folclórica brasileira, conversamos a cerca da cultura tocantinense. Logo percebi que há muita falta de conhecimento sobre o Tocantins, até mesmo entre as pessoas que moram aqui. 
Por ser um estado bastante novo e ter uma população oriunda de varias partes do Brasil, dando ao Tocantins por tanto uma característica multicultural, temos por tanto uma diversidade muito grande de expressões culturais, pois as pessoas que saem da sua terra natal para morarem no Tocantins acabam trazendo consigo os seus costumes, enriquecendo assim a nossa cultura local.
Quer dizer por tanto que o Tocantins não tem uma cultura própria?  Claro que sim. A característica principal da cultura tocantinense é a diversidade das expressões culturais, sobretudo a partir da formação do estado com pessoas de varias regiões do país, que vieram construir o Tocantins e trouxeram consigo as raízes culturais de sua terra natal. No entanto podemos destacar algumas expressões culturais próprias dessa região, como por exemplo o chambari na culinária e a sucia – Dança tipicamente tocantinense.
apresentação de súcia
A sucia é uma dança de origem africana trazida pelos negros que vieram trabalhar como escravos nas minas de ouro e diamante em Arraias, Natividade, Porto Nacional e outras regiões do estado.
Dança-se em uma grande roda ao som de tambores construídos com tronco de arvores e coro de animais. Não há um passo especifico, a ideia é improvisar ao som dos tambores, dança - se livremente, as mulheres dança às vezes com objetos cheio de agua na cabeça, mostrando um grande equilíbrio. É uma dança típica do nosso estado não encontrada em nenhuma outra região do Brasil. É uma dança que lembra outros ritmos de origem africana como, por exemplo, o coco, a ciranda e o maracatu.
Já o chambari é um prato muito apreciado no Tocantins. Pois antigamente não era tão fácil para a maioria das famílias tocantinenses comprarem carne de gado para fazer a mistura com o arroz e o feijão, dai comia se peixe ou carne de caça. Quando se comprava carne de gado geralmente eram as partes menos valorizadas, isto é, a ossada que era mais barata. O chambari era uma dessas partes da vaca que não era valorizada, dai as famílias mais pobres conseguiam comprar.
Chambari preparado a moda tocantinense
O chambari é uma parte da coxa do gado que tem muito osso e nervo e quase não tem carne, o mesmo é serrado e cozinhado por varias horas na panela de pressão para amolecer, quando pronto é servido o caldo.
O caldo do chambari é muito forte e dá muita energia para quem toma, antigamente era consumido, sobretudo pelos trabalhadores rurais, que enfrentavam grandes jornadas de trabalho nas lavouras tocantinenses. Hoje em dia o Chambari tornou-se uma comida tipicamente tocantinense, encontrada em feiras populares e restaurantes do estado, já não é apenas uma comida apreciada pelos camponeses pobres e trabalhadores rurais, tanto que já não é tão barato como era antigamente.
Por tanto quem visita o Tocantins e quer experimentar o sabor dessa terra deve comer um bom caldo de chambari com feijão trepa pau, tomar aquela cachacinha com murici e se acabar numa roda de sucia, e claro depois se refrescar do calor que por aqui não é pouco nas águas do Tocantins, depois disso com certeza irá querer voltar aqui um dia.

Memórias de uma luta

Recebi a missão dos companheiros da coordenação dos movimentos que ocuparam a superintendência regional do INCRA em Goiás de ficar responsável pela assessoria de comunicação dessa ação. Com isso o camarada Zelito do Movimento Terra Livre, organização da qual eu também fazia parte – Deu a ideia de fazermos o diário da ocupação para divulgarmos o dia a dia na ocupação e as ações que iriamos realizar, pois com o passar dos dias a ação tenderia a cair no esquecimento, sobretudo pelos veículos oficiais de comunicação, com o diário manteríamos a ocupação em pauta.

A ideia inicial era que fizéssemos os relatos coletivamente, mas já nos dois primeiros houve grande dificuldade para reunir todo mundo, sobretudo por que sempre havia outras atividades e problemas que surgiam que o núcleo dirigente precisava resolver. Por tanto acabou ficando para mim a responsabilidade de fazer os relatos que sempre quando era possível eu submetia ao crivo de alguns camaradas.

O diário foi uma ação muito importante para divulgar a nossa luta e para que também conseguíssemos apoio de diversas organizações da classe trabalhadora. Os relatos foram reproduzidos em diversos sites e blogs de norte a sul do país, assim como chegou a nossas mãos diversas manifestações de apoio graças às informações que passávamos através do diário, o que com certeza contribuiu para que fizéssemos a maior ocupação do INCRA-GO.  E mesmo com o boicote da grande mídia na maior parte do tempo que ficamos acampados no INCRA, conseguimos manter o Brasil informado do que se estava passando em Goiânia.

Quando comecei escrever era como estivesse fazendo uma nota à imprensa, mas ao longo dos dias o mesmo foi ganhando um caráter mais eloquente e emotivo, sobretudo por que a imprensa estava se lixando pelo que nós estávamos fazendo lá dentro. A não ser se fizéssemos como defendia um companheiro da direção – Tocássemos fogo em umas caminhonetes do governo, dai a imprensa apareceria para nos chamar de vândalos e com eles a policia para nos reprimir.

Por fim o caráter do diário foi mudando, já não era um informativo meramente, queríamos trazer o leitor para dentro da ocupação com a gente, para que ele se sentisse parte dela, para que ele pudesse sentir o clima em que vivíamos – Nossas angustias, tristezas, esperanças e alegrias.

Lembro-me de uma ligação que recebi de uma senhora que morava em um assentamento no vale do Araguaia – Ela disse que havia lido o diário e tinha se emocionado com o nosso exemplo de força e resistência. Lamentava por não poder esta conosco na ocupação, pois não tinha como largar seu lote. E pediu para que eu agradecesse a todos, pois sabia que estávamos lutando por todos os acampados e assentados de Goiás independente do movimento que faziam parte; Que eu desse um grande abraço e falasse que ela estaria rezando por nós, pela nossa vitória.

Esse telefonema foi uma grande injeção de animo para que eu continuasse escrevendo o diário, pois não era simples achar um tempo para escrevê-lo, já que eu tinha outras tarefas na ocupação bastante cansativas.

Alguns companheiros chegaram a dizer que não era bom escrever o diário, pois dávamos muita informação a cerca do que iriamos fazer e assim os nossos inimigos sempre sabiam do nosso próximo passo. Já outros elogiavam, pois o nosso exemplo de luta e resistência inspirava muita gente e por outro lado conseguíamos furar o bloqueio da mídia, conseguir apoio do Brasil todo e nos blindarmos contra qualquer ação truculenta por parte das autoridades.

Reorganizar esses relatos é resgatar a memoria e o exemplo dessa importante luta do movimento campesino por reforma agrária em Goiás, sobretudo em um período em que os que bravamente continuam resistindo e persistindo na luta por reforma agrária não tem o que comemorar. Assim espero que esse relato possa inspirar, sobretudo a juventude camponesa a continuar a tão importante e necessária luta por reforma agrária em Goiás e em todo o Brasil.

Pedro Ferreira Nunes
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quinta-feira, 24 de julho de 2014

"A nossa luta é pra vencer..."





































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A todas as famílias organizadas pelo Movimento Popular Terra Livre, Movimento de Libertação dos Sem Terra, Federação dos Trabalhadores e trabalhadoras da agricultura familiar de Goiás, Movimento de Volta dos Trabalhadores ao Campo e ao Movimento Brasileiro dos Trabalhadores Rurais que participaram da ocupação do INCRA-GO em 2011.

Em especial aos camaradas: Zelito, Queila, Danilo, Alessandra, Matheus, Dona Fatima, Geraldo, Lena, Géssica, Aloisio, Cida, Valdelice, Antônio Chagas, Geraiton, Lazim, Aparecido, Anair e Nega.


19 mil jovens votaram pela primeira vez no Tocantins – A juventude que tomou as ruas contra a política hegemônica no estado vai às urnas.

Por Pedro Ferreira Nunes

Em junho de 2013 milhares de jovens tomaram as ruas das principais cidades do Tocantins na luta por direitos como também contra a política hegemônica que impera no estado. Um dos momentos mais significativos dessas mobilizações foi com certeza a manifestação em frente ao palácio Araguaia onde a juventude gritou palavras de ordem contra o Siqueirismo, mostrando sua indignação com um governo que não atende as necessidades do povo trabalhador, em especial da juventude. E também a manifestação em frente à assembleia legislativa – onde os manifestantes deram as costas para os ditos representantes do povo, que não representam o povo.

É impossível não se entusiasmar com o frescor e rebeldia de uma juventude que não esta disposta a viver em um estado dominado por duas oligarquias que se revezam no governo, atendendo aos mesmos interesses, os interesses da classe dominante, os interesses da burguesia. Na minha infância cansei de ouvir da população o argumento de que votavam no Siqueira Campos por que – ele rouba, mas faz. Infelizmente esse conformismo fortaleceu um grupo político que há décadas domina o executivo, legislativo e judiciário do Tocantins, que governa para uma minoria deixando a maioria da população na miséria.

No entanto essa mentalidade tem mudado, sobretudo por que a juventude trabalhadora tem tomado em suas mãos o papel de ser protagonista nas lutas populares desencadeada no estado. 19 mil desses jovens irão às urnas pela primeira vez (segundo dados da justiça eleitoral), muito deles irão sem nenhum entusiasmo, pois não se veem representados pelas organizações políticas tradicionais – que em vez de potencializar, castra os sonhos desses jovens.

Mesmo assim, muito desses jovens irão às urnas e votaram. Cabe por tanto as organizações revolucionarias disputar a consciência desses jovens, para que estes fortaleçam as candidaturas populares que lutam pelos direitos da classe trabalhadora e contra o capitalismo. Mas para tanto é fundamental que esses jovens sintam-se representados nessas candidaturas e não apenas se sintam representados, que possam também fazer parte dessas candidaturas.

A juventude é com certeza um dos segmentos que mais sofrem com as mazelas políticas que impera no Tocantins – serviços públicos de péssima qualidade, falta de políticas públicas especificas para juventude e oportunidades, ao contrario, em vez de atender os anseios da juventude trabalhadora, criminalizam suas lutas. É, portanto importante que as candidaturas populares assumam as bandeiras de luta da juventude trabalhadora. As candidaturas da esquerda devem ter um caráter de formação para despertar a consciência dessa juventude para necessidade de se organizar e lutar para mudarmos a situação política, econômica e social no Tocantins.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Conto: Um certo José

      Por Pedro Ferreira Nunes

Após mais um dia de trabalho José pega o ônibus de volta para casa, é o primeiro dos quatro que terá que pegar para chegar à periferia onde mora. Há oitos anos desde que chegou do interior que trabalha como faxineiro em um supermercado. Tinha mulher e quatro filhos.

José nasceu e cresceu em uma pequena cidade como muitas que existem no interior do nosso país. Não há trabalho, não há infraestrutura, não há condições para se viver dignamente. Nem se quer terra havia. A pequena chácara onde nasceu e cresceu juntamente com seus irmãos teve que abandonar devido à construção de uma usina hidrelétrica sobre o rio.

Quando morava na chácara mesmo passando dificuldade conseguia tirar da terra o suficiente para viver com dignidade, no entanto desde que fora obrigado a deixar sua terrinha passou a sobreviver às duras penas naquela pequena cidade que não lhe dava nenhuma condição para viver dignamente, assim ele juntou sua mulher e seus filhos e decidiu partir dali em busca de uma vida melhor em um grande centro.

Assim que chegou naquela cidade não teve dificuldade para arrumar um trabalho como faxineiro em um supermercado, havia muita gente do interior trabalhando na capital, e os trabalhadores de sua terra tinham a fama por ali de serem bons funcionários.

No entanto nem tudo eram flores, o salario mínimo que recebia se quer dava para sobreviver, mal podia pagar o aluguel do barracão onde morava com sua esposa e seus filhos, a comida era escassa, não havia nenhuma mordomia, mesmo com a esposa de José o ajudando com o seu salario de diarista.

José tinha a esperança de quem sabe um dia comprar sua casa própria, mas como se o dinheiro que ganhava mal dava para sobreviver? Passou se um ano, três, seis, já havia oito anos que estavam ali, mas a vida não melhorava. José continuava pagando aluguel e sobrevivendo com um salario de fome.

As vezes ele pensava na sua terra, no interior onde vivera, na chácara onde crescera e teve que abandonar para que o governo pudesse construir uma usina hidrelétrica para vender energia e encher o bolso de dinheiro das elites locais. Pensava em voltar um dia, mas sabia também que a vida por ali não seria fácil, naquela cidade pelo menos tinha trabalho, não era grande coisa, mas era melhor do que nada.

José continuava a sua rotina, tinha a esperança de um dia sair do aluguel, sua esposa já não tinha tanta esperança assim e, portanto decidiu voltar para o interior com os filhos e deixar José só ali. No dia em que ele chegou ao barracão em que morava e viu que sua esposa havia o deixado, ele perdeu o chão, não podia acreditar, foi para um bar bebeu todas, no outro dia não conseguiu ir para o trabalho.

No outro dia quando chegou ao trabalho seu gerente deu lhe uma grande bronca e o fez assinar uma advertência por ter faltado o trabalho, nos oito anos que estava ali ele nunca havia faltado e mesmo assim na primeira vez que fizera levara uma grande bronca do patrão e teve que assinar uma advertência.

José seguia no ônibus de volta para o barracão onde morava de aluguel, sentia muita falta de sua mulher, de seus filhos, queria tê-los a seu lado, sonhava um dia sair do aluguel e ter uma casa própria. Ouvia a propaganda política do governo dizendo que estava acabando o déficit habitacional, já havia oito anos que José havia assinado um cadastro e nada de sua casa sair.

Passou se dez, vinte, trinta anos e José continuava como faxineiro no chão daquele supermercado. Nunca mais soube noticia de sua mulher, dos seus filhos, não voltou mais para terra onde nascera e crescera, continuava morando de aluguel em um barracão, sozinho.

Após mais um dia de trabalho e enfrentar o transporte caótico de volta para o barracão onde morava. José tranca-se no seu quarto, deita em sua cama e adormece. Sonha com sua mulher, com seus filhos, todos estão na cidade do interior onde ele nasceu e cresceu. Vivendo felizes na pequena chácara de sua família.


José adormece profundamente e já mais acorda novamente, enfim realiza o sonho de conseguir uma casa própria, sete palmos de terra de onde já mais será tirado. No cemitério da cidade do interior onde nasceu e cresceu, ali viverá eternamente ao lado de seus pais, irmãos, mulher, filhos e amigos.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Conjuntura política no Tocantins - Eleições 2014.

 1-       Cenário eleitoral de 2014

Por Pedro Ferreira Nunes

Ao contrario de 2010 quando tivemos apenas duas candidaturas ao governo do Tocantins, neste ano teremos 5 candidatos. São eles: Sandoval Cardoso (SD), Marcelo Miranda (PMDB), Ataídes Oliveira (PROS), Joaquim Rocha (PSOL) e Carlos Pontengi (PCB).

Essa mudança no cenário eleitoral tocantinense se deu pelas seguintes questões;

a-      Devido ao péssimo governo de Siqueira Campos eleito em 2010, que não conseguiu manter a base de apoio que o elegeu. Sem condições de concorrer à reeleição Siqueira pretendia que seu filho Eduardo concorresse em seu lugar, tanto que o velho Siqueira renunciou o mandato de governador para viabilizar a candidatura do filho. Porém a baixa popularidade de Eduardo e a forte rejeição do seu nome pela base de apoio do atual governo fez com que seu nome fosse preterido. Assim os Siqueiras fazem um recuo estratégico, abrindo mão de disputar a atual eleição para apoiar a candidatura de Sandoval Cardoso (SD) que é ex-presidente da assembleia legislativa e atual governador do Tocantins, eleito indiretamente após á renuncia do velho Siqueira.

b-      Se por um lado os Siqueiras não fizeram um grande governo, por outro lado à oposição tradicional também não teve capacidade de unificar-se para se colocar como uma força alternativa ao Siqueirismo. Parte dos que hoje estão na oposição estavam na base de apoio do governo Siqueira até pouco tempo atrás, como por exemplo, os senadores Kátia Abreu e Ataídes Oliveira e o deputado Marcelo Lelis. Assim a oposição terá duas candidaturas que será a de Marcelo Miranda (PMDB) que terá Marcelo Lelis (PV) como vice e Kátia Abreu (PMDB) disputando o senado. A outra candidatura é do senador Ataídes Oliveira (PROS) com o deputado Sargento Aragão disputando o senado.

c-      A grande novidade neste novo cenário são duas candidaturas do campo popular, algo que nunca aconteceu na historia do Tocantins. O PSOL apresentou a candidatura do médico Joaquim Rocha – é a segunda vez que o partido lança candidato ao governo do estado nas eleições diretas. Já o PCB que disputa pela primeira vez uma eleição no Tocantins lançou o nome do bancário Carlos Pontengi de Porto Nacional.

2-      Mais do mesmo

As candidaturas de Sandoval Cardoso (SD), Marcelo Miranda (PMDB) e Ataídes Oliveira (PROS) podem ser colocadas no mesmo pacote, como diz um velho deitado – são tudo farinha do mesmo saco. Todos são representantes da velha politica feita no Tocantins e que defendem o mesmo projeto de desenvolvimento para o estado de favorecimento ao agronegócio exportador e aos megas empresários e especuladores. Para o resto da população apenas migalhas.

Mas não nos iludamos, em um país onde o poder econômico é o fator principal das vitorias eleitorais, as candidaturas populares dificilmente terão alguma chance contra as candidaturas tradicionais e que contaram com amplo apoio financeiro por parte de multinacionais. Muito provavelmente haverá uma bipolarização dessa eleição entre Sandoval Cardoso x Marcelo Miranda.Já Ataídes Oliveira corre por fora.

Sandoval Cardoso é o atual governador do estado, eleito indiretamente após á renuncia de Siqueira Campos. Por tanto concorre à reeleição, além de contar com á maquina do estado a seu favor, terá uma base de apoio de 17 partidos (SD, PR, PDT, PRB, PSDB, PTB, PTC, PEN, PPS, PSB, PHS, PSL, PRTB, DEM, PP, PRP e PSC). Por tanto não será fácil derrota-lo tal como imaginava alguns analistas. Por outro lado Sandoval Cardoso pertence à base Siqueirista, que não lhe deixou uma herança muito boa, podendo por tanto prejudicar a sua candidatura.

Marcelo Miranda já foi eleito governador duas vezes, no entanto não conseguiu concluir seu segundo mandato em 2006, pois foi cassado pela justiça eleitoral, mesmo assim é bastante conhecido em todo o estado, é bem popular e lidera as pesquisas – Terá muito provavelmente o apoio do PT nacional, pois é amigo de Lula, além do PMDB, PV, PSD e parte do PR. Marcelo Miranda tem muitos problemas na justiça eleitoral, em 2010 ganhou a disputa para o senado, mas não conseguiu assumir. Essa pode ser mais uma eleição que ele poderá ganhar, mas não levará.

Já Ataídes Oliveira do PROS é pouco conhecido pela maioria da população, sobretudo no interior. Nunca concorreu a uma eleição majoritária, tornou-se senador ao herdar a vaga do falecido João Ribeiro, de quem era suplente. Ataídes Oliveira acredita que pode ser um novo Amastha (rico empresário que venceu a ultima eleição para prefeitura de Palmas) no inicio da disputa Amastha estava atrás de Luana Ribeiro e Marcelo Lelis, e ao final conseguiu vencer. No entanto é outra eleição, onde dificilmente esse fenômeno se repetirá. Mas não podemos subestimar a sua candidatura, pois estrutura financeira não lhe faltará como também uma base de apoio considerável – PROS, PTN, PPL, PMN, PSDC, PC do B e PT do B.

3-      O campo popular

PSOL-TO mais uma vez dividido!

O PSOL-TO tal como em 2012 nas eleições municipais em Palmas, vai dividido novamente. As brigas internas constantes faz com que o partido nunca se consolide de fato no Tocantins - tornando-se tal como em outros estados uma alternativa real para classe trabalhadora. O Médico Joaquim Rocha candidato ao governo do estado, não é unanimidade no partido, foi um nome imposto pelo setor majoritário, o que mais uma vez ocasionou numa divisão interna. Contrariando a tradição democrática do PSOL não houve disputa de previas como em outros estados.

Como reflexo dessas disputas internas no inicio do ano um grupo de militantes deixou o partido, onde já denunciava uma espécie de intervenção branca da direção nacional do PSOL favorecendo um grupo que tem inclusive ligações com o prefeito de Palmas, Carlos Amastha do PP. A atual direção majoritária no estado que é bancada pela direção nacional tem conseguido enterrar o bom nome que o partido tem a nível nacional no Tocantins - com decisões autoritárias, imposta goela abaixo da militância, o PSOL no Tocantins não se diferencia muito dos partidos da ordem, assim a candidatura do Médico Joaquim Rocha tende ao fracasso. Não só pela falta de estrutura do partido, mas pela pouca capacidade do moderadíssimo Joaquim Rocha, do candidato ao senado Elvio Quirino e dos oportunistas que o rodeia de apresentar um projeto popular de transformação do modelo hegemônico vigente no Tocantins.

PCB busca se consolidar no estadoe fortalecer a luta da classe trabalhadora

Recém-criado no Tocantins, o PCB parte para sua primeira disputa eleitoral no estado. O candidato do partido será o bancário Carlos Pontengi e contará também com a educadora popular Seissa como candidata ao senado. Até o momento a candidatura do PCB é quem melhor tem se apresentado como uma real alternativa contra a velha política que impera no Tocantins. Sem ilusões de que ganhará as eleições, o partidão – irá denunciar as mazelas do modelo hegemônico vigente, defendendo os direitos da classe trabalhadora e apontando para as necessidades de uma transformação radical da sociedade que vivemos.

O PCB também tem dito uma linha bastante importante de chamar os movimentos populares para construir coletivamente o programa de governo que será defendido por Carlos Pontengi.

Se executar aquilo que esta planejando o PCB com certeza dará uma grande contribuição na formação, organização e luta da classe trabalhadora tocantinense, papel que até pouco tempo atrás defendíamos que deveria ser feito pelo PSOL. No entanto acreditamos que o PCB tem total condição para tanto e, portanto deve ser fortalecido por todos os militantes revolucionários que atuam no Tocantins.

“Se os comunistas tem razão, então eu sou o louco mais solitário em vida. Se eles estão errados, então não há esperança para o mundo.”
Jean-Paul Sartre
Pedro Ferreira Nunes
Poeta, escritor e educador popular
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Plínio de Arruda Sampaio, Presente!!! Uma vida dedicada à militância em defesa da classe trabalhadora!

“Dormi, água das batalhas, descansem em paz vossa alma! Irmão bem mereceis repouso e felicidade eternas!”

No intervalo do jogo da seleção Brasileira de futebol contra a Alemanha recebi a triste noticia da morte do grande Plínio de Arruda Sampaio – histórico militante socialista que dedicou grande parte da sua vida a luta por um país justo e igualitário. Noticia esta que me deixou extremamente triste, pois a perda de tão valoroso camarada é com certeza uma grande perda para esquerda revolucionaria não só brasileira como também mundial.

Plínio de Arruda Sampaio sempre foi uma grande referencia de coerência e dedicação em defesa dos direitos da classe trabalhadora, em especial a luta do campesinato sem terra. Foi um dos mais ferrenhos defensores de uma reforma agrária radical no Brasil – luta esta que o levou a esta na lista dos 100 primeiros cassados durante o golpe militar de 1964. Foi com certeza uma grande inspiração para que me tornasse um militante marxista revolucionário.

Uma das experiências mais importante na minha militância política que guardarei para sempre na memoria será com certeza a campanha a presidente da republica de Plínio de Arruda Sampaio em 2010 pelo PSOL. Onde eu tive a oportunidade de conhecê-lo e esta com ele em Goiânia e Brasília.

Ainda no período de disputa interna dentro do PSOL para definir quem seria o candidato do partido a presidência da republica lembro-me de pegar o ônibus e seguir sozinho para o interior de Goiás defendendo o nome do camarada Plínio, em cidades que eu nunca havia ido e onde não conhecia ninguém. No entanto por saber a importância de ter o camarada Plínio como nosso candidato eu encarava qualquer tarefa.

Nunca havia participado tão entusiasticamente de uma campanha – indo nas portas das universidades, nos terminais de ônibus, na periferia de Goiânia, nos acampamentos e assentamentos do campesinato sem terra. Assistia a todas as entrevistas e debates de que ele participava e quanta coisa eu aprendi, quanta experiência que adquiri neste processo, em especial na militância feita junto ao comitê goiano em apoio a sua campanha.

Nunca ninguém defendeu com tanto entusiasmo e tão bem em uma campanha eleitoral as bandeiras históricas da classe trabalhadora, nunca ninguém defendeu tão bem um projeto socialista para o Brasil – duro nos debates, mas sem perder a ternura.

Plínio já anunciava em sua campanha o que estaria por vim, e nós vimos em junho de 2013 milhares tomando as ruas desse país lutando por aquilo que Plínio defendia em sua campanha em 2010 – que nós socialistas revolucionários sempre defendíamos e continuaremos defendendo. E o velho Plínio estava lá nas ruas, tal como muito daqueles jovens provavelmente estavam lá inspirado em suas palavras – o impossível torna-se possível se você quiser... ousem, ousem, não aceite o discurso do proibido.”

Para o campesinato sem terra ele deixou um grande recado – “ou o povo com o seu poder popular impõem uma reforma agrária ao governo ou o governo não fará uma reforma agrária”. Mas do que nunca precisamos seguir essas palavras.

A morte do camarada Plínio de Arruda Sampaio nos deixa triste, mas conforta-nos saber que o seu exemplo continuará vivo e o seu espirito com certeza continuará ao nosso lado nas lutas que travaremos pela emancipação da classe trabalhadora da cidade e do campo. O exemplo do camarada Plínio com certeza dará belos frutos - nós assumimos o compromisso de continuar na luta seguindo este exemplo. A sua família o nosso mais profundo pesar.

Por fim termino lamentando que nesta próxima eleição não tenhamos o camarada Plínio com o seu carisma e entusiasmo, o que não me deixa nem um pouco entusiasmado com essas eleições. Mesmo assim espero que as campanhas da esquerda revolucionária se inspirem em seu exemplo.

A maioria do povo brasileiro influenciada pela grande mídia, em especial a burguesia lembrara-se do Oito de julho de 2014 como um dia triste por que a seleção brasileira de futebol sofreu uma derrota histórica para seleção alemã, mas para nós militantes revolucionários, que lutamos por um país justo e igualitário, sempre nos lembraremos desse dia como o dia em que a classe trabalhadora perdeu um dos seus filhos mais ilustre – o camarada Plínio de Arruda Sampaio.

Pedro Ferreira Nunes
Poeta, escritor e educador popular


Lajeado-TO, 09 de julho de 2014.