segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Breve reflexão sobre o processo das conferências públicas no Brasil



Não é de hoje que tenho uma posição critica as conferências realizadas pelo poder público tanto a nível regional como nacional. Especialmente a partir do momento que tomei conhecimento de que as políticas aprovadas coletivamente nestes espaços são simplesmente engavetadas pelos governos de plantão. Podemos apontar um exemplo emblemático – a conferencia nacional de comunicação realizada em 2010, onde uma série de questões para democratização da mídia no Brasil – foram aprovadas, mas cinco anos depois, nenhuma saiu do papel.

Há vários outros exemplos, o que careceria de um estudo mais aprofundado para aponta-los, o que não é o objetivo desse breve artigo, fica ai por tanto a tarefa para nossa academia. O que proponho aqui é uma breve reflexão sobre o processo das conferencias – se de fato estão cumprindo o seu papel que é de debater, propor e elaborar coletivamente politicas públicas para melhorar a vida da população. 

Ora, se as decisões levantadas nestes espaços são simplesmente engavetadas não é desperdício de dinheiro público a sua realização? Pois é de conhecimento de todos que não é barato o custo para realização das conferencias – gasto com material impresso, camisetas, transporte, alimentação, hospedagem entre outros. Tudo isso com recursos públicos para realizar uma farsa, pois infelizmente é isto que tem caracterizado estas conferências públicas. 

Outro fator a se refletir é a participação da sociedade civil organizada neste processo. Uma participação mínima. E isso é reflexo da falta de credibilidade da população neste espaço como um instrumento para construção coletiva de politicas públicas para melhorar a vida da comunidade. Nas conferências municipais, especialmente no interior essa realidade é ainda pior, poucas pessoas da sociedade civil comparecem, e os que lá vão, não participam ativamente, ficam apenas aplaudindo e levantando crachás.

Nas poucas conferências públicas que tive a oportunidade de participar como a de juventude nos municípios de Goiânia e Aparecida de Goiânia e das cidades em Palmas o maior numero de participantes são de burocratas ligados ao serviço público. São eles que coordenam e dirigem os trabalhos, são eles que propõem as politicas que devem ser aprovadas e são eleitos como delegados. Na maioria das vezes propostas rebaixadíssimas que mesmo assim não são colocadas em praticas – tanto no município, nem no estado e pior ainda a nível nacional.

Em uma conversa recente com uma servidora pública do município de Lajeado – ela comentava que não via sentido na realização da conferência municipal de assistência social na cidade, pois não via sentido perder tempo discutindo, elaborando e aprovando propostas que já mais seriam colocadas em praticas pela prefeitura municipal. Ela dizia saber muito bem disso, pois havia participado da conferência anterior que não tinha dado em nada.

Foi a partir desse dialogo e do acompanhamento de duas conferências públicas que se realizaram recentemente no município de Lajeado (assistência social e segurança alimentar). Que reavivou as críticas que trago comigo já há algum tempo a cerca do processo das conferências públicas no Brasil. Crítica que se tornou mais contundente ao presenciar como se dá este processo no interior – assim podemos afirmar – se nas grandes cidades as conferências tem todos os problemas que já relatamos a cima, imaginem no interior do interior do Brasil.

No Lajeado, por exemplo, grande parte das pessoas que foram convidadas se quer sabiam que iriam participar de uma conferência pública municipal ou pior ainda, não sabiam se quer o que é uma conferência pública. Na conferência de assistência social o convite para os idosos não dizia em momento algum que o evento se tratava de uma conferência, mas sim de um momento de recreação. Já na de segurança alimentar o convite dizia que era para um jantar em homenagem ao dia dos pais. Ora, que contribuição que essas pessoas podiam dar em uma discussão que elas se quer sabiam do que se tratava e  com que proposito se dava. Sem falar na desonestidade e a falta de respeito com essas pessoas que foram ludibriadas a participar dessas conferências.

Estes exemplos mostram que o próprio poder público não leva os processos de conferência a sério, que realizam por realizar, simplesmente para cumprir tabela, já que eles mesmos sabem que nada do que será aprovado ali iram colocar em prática. E se o poder público que é o responsável por efetivar as políticas que são aprovadas nestes espaços não leva as conferências a sério. Qual o estímulo à população tem para participar? E assim segue a realização das conferências públicas no Brasil.

Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Campos Lindos: Celeiro do agronegócio é a pior cidade para se viver no Tocantins

Plantação de soja irrigada em Campos Lindos
É o que revela o levantamento do IPEA (Instituto de Pesquisas e Estatísticas Aplicadas) divulgado recentemente. A cidade que esta localizada na região do nordeste tocantinense, na divisa com o Maranhão, tem 9. 408 habitantes, e é uma das maiores produtoras de grãos do estado. No entanto as riquezas produzidas pelo agronegócio em vez de melhorar a condição de vida de quem vive em Campos Lindos e região, simplesmente gera mais desigualdade social.

Este não é o primeiro levantamento que mostra a desigualdade social e a miséria no meio rural tocantinense. Outros estudos já mostraram que o avanço do agronegócio no Tocantins tem gerado mais miséria do que desenvolvimento para população desses territórios. Isso se dá pelo fato de que o modelo de desenvolvimento no campo brasileiro busca o lucro e não a melhoria das condições de vida da população. Um modelo que gera riquezas apenas para burguesia agrária – para as multinacionais que atuam no campo e para os latifundiários.

Com a omissão do estado e a anuência da justiça – vários camponeses perderam suas terras em Campos Lindos para dar lugar à monocultura da soja. Tal politica foi responsável para que o município alcançasse o triste titulo de pior cidade do Tocantins para se viver.  Pois as riquezas produzidas pelo agronegócio bem como o desenvolvimento e o progresso prometido chega apenas para alguns, alguns poucos privilegiados que mantem suas riquezas graças à miséria de muitos.

Recentemente o ministério da agricultura comandado pela senadora Kátia Abreu (PMDB) lançou o programa ‘classe média no campo’, o objetivo segundo a ministra – é combater a desigualdade social no meio rural. O que não passa de marketing politico, um engodo a população campesina. Pois o programa não enfrenta a questão principal que gera a desigualdade e a miséria no campo – que é a grande concentração de terras na mão de poucos. Qualquer programa que não paute uma reforma agrária de fato neste país, não passa de enganação. Não resolve a questão da desigualdade, da violência e da miséria no meio rural.

O levantamento que revelou que Campos Lindos é a pior cidade para se viver no Tocantins. Não nos causa espanto, pois sabemos muito bem a que e a quem serve o agronegócio, e não é aos campesinos ou muito menos ao povo trabalhador das cidades. O que nos causa espanto é o fato de que esse modelo agrícola baseado na grande concentração de terras, na monocultura, na destruição ambiental, na contaminação de alimentos com uso de agrotóxico, no trabalho escravo e na violência contra camponeses, indígenas e quilombolas só tem avançado cada vez mais. Isso sim nos causa espanto.

Por isso gritamos: Para combater a desigualdade social, a miséria a violência no campo – reforma agrária já!

Pedro Ferreira Nunes
Militante do Coletivo José Porfírio

“Reforma agrária é uma luta de todos e aqui de novo viemos reafirmar – uma aliança entre o campo e a cidade, pois a verdade amanhã triunfará. Não adianta inventar outros caminhos,por que já mais vão conseguir nos convencer – capitalismo nunca foi de quem trabalha – nossos direitos só a luta faz valer.”

Zé Pinto

terça-feira, 1 de setembro de 2015

2º Festival de poesia ‘elitizada’de Palmas

A segunda edição do festival de poesia falada realizada pela prefeitura de Palmas poderia mudar de nome – em vez do atual, poderia passar a se chamar – festival de poesia elitizada. Um nome bem mais apropriado diante de uma burocracia exagerada para se inscrever e participar do evento.

É inegável a importância de um festival de poesia em um estado onde não há uma grande tradição literária. Onde os poetas e os amantes da poesia têm pouco espaço e incentivo para produzir e divulgar sua arte. Nesse sentido não há como negar a importância dessa rara exceção. Exceção mesmo já que não há no Tocantins e até mesmo no resto do Brasil um festival de poesia com uma premiação interessante.

Não que a premiação de mais de 27 mil reais seja o que dá importância ao festival, o importante é ter um espaço para os poetas e os amantes da poesia divulgar sua arte – e assim fortalecer a poesia feita no Tocantins, bem como despertar o gosto pela leitura de poesia em novos leitores e, por conseguinte formar novos poetas. Porém não podemos negar a importância da premiação que com certeza é um grande incentivo para os poetas tocantinenses produzir, publicar e divulgar suas obras.

Porém quem lê o edital do 2º festival de poesia falada de Palmas em vez de se sentir estimulado a participar logo se desanima. É tanto documento, tanta exigência, tanta burocracia que desmotiva qualquer um. Ora, para que tanta burocracia para se inscrever num festival de poesia falada? Para que tanta documentação? Até parece que vamos abrir uma firma. Os organizadores deste festival só podem esta com a cabeça no século passado. Se utilizassem minimamente os meios tecnológicos que temos hoje, 90% da burocracia existente no edital seriam evitadas.

Tanta burocracia só tem um sentido – elitizar o festival de poesia falada. Pois serão poucos que terão condições para correr atrás de tanta documentação para se inscrever. Nesse sentido poucos poetas populares, sobretudo no interior do Tocantins terão condição de participar. Pois conhecendo bem a realidade de quem faz poesia, sobretudo poesia popular, não tem condições estruturais para atender tantas exigências burocráticas.

A que serve um festival de poesia elitizada? Com certeza não é para fortalecer os poetas e muito menos a poesia feita no Tocantins. Quanto mais democrático for o festival melhor para a literatura tocantinense – pois só um festival verdadeiramente democrático possibilita o surgimento de novos poetas, sobretudo poetas populares como também novos leitores de poesia. Com este modelo de festival elitizado e burocratizado não conseguiremos fortalecer os poetas e a poesia feita no e do Tocantins.

Quem tiver saco para atender tanta burocracia boa sorte. Eu não tenho. E como protesto não irei participar do mesmo. Quem sabe numa futura edição?! Espero que nas próximas tenhamos um festival menos burocrático e mais democrático.

Pedro Ferreira Nunes

Poeta, escritor e educador popular

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Breves comentários sobre a conjuntura nacional III

‘’Tem que respeitar o voto’’

Essa é a frase mais utilizada nas ultimas semanas pela presidenta Dilma Rousseff. É um argumento um tanto frágil para defender o seu governo de um possível processo de impeachment. Ora o povo não é obrigado esperar quatro anos para tirar um governo que não esta correspondendo aos seus anseios. Aliás, deveria si aprovar uma lei no congresso nacional dando instrumentos para o eleitor revogar mandatos de políticos que não estão cumprindo o seu papel de representantes do povo.

Impeachment?!

Com isso não estou defendendo o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Por tanto não me venham acusar de golpista ou de fazer o jogo da direita. O fato é que até o momento não há nada que justifique a instauração de um processo de impeachment contra Dilma, faze-lo neste momento é golpismo. Porém a população tal como pediu o fora Collor, pediu o foro FHC, pediu o fora Lula no episodio do mensalão, tem todo o direito de pedir o fora Dilma. Agora conseguir é outros quinhentos.

Vale tudo

Ouvir a presidenta Dilma criticando o vale tudo eleitoral foi um tanto cômico. Logo ela que praticou magistralmente o vale tudo eleitoral durante a campanha de 2014. Ora, Dilma e o PT não tem nenhuma moral em criticar algo que começou com eles. Agora o feitiço virou contra o feiticeiro.

Mais uma vez PT X PSDB

O PSDB acusa o PT de fazer tudo que ele fez. E o PT faz tudo aquilo que criticava o PSDB de fazer. O que significa que o si o PSDB voltar ao poder não fará nada de diferente do que o PT esta fazendo. Por tanto precisamos construir uma alternativa que vai além destes dois projetos que no fundo é um só.

Parlamentarismo é a saída?!

É o que vários partidos como PV, PPS entre outros estão dizendo. Será mesmo? Se com o poder que o parlamento brasileiro tem hoje já tem tantos mensalões, tantas falcatruas. Imagine si eles tiverem em suas mãos o poder de tirar e colocar ao seu bel prazer quem deve comandar o país. Ora, esse poder deve esta nas mãos do povo e só do povo.

Ajuste fiscal

Aprovar as medidas que retiram direitos dos trabalhadores no congresso nacional não foi difícil. Até parlamentares do PSDB e do DEM votaram com o governo. Agora quando esta em discussão medidas que onera as empresas a coisa mudou totalmente de figura. E estes senhores ainda tem a cara de pau de dizer que estão defendendo os interesses dos trabalhadores.

Mais sobre o ajuste fiscal

Vejam só o caso do PT e do PC do B que recusaram-se a assinar um manifesto de organizações populares que criticam o ajuste fiscal. Isso mostra que o discurso em defesa dos trabalhadores é simplesmente farsa destes partidos. No fundo eles estão comprometidos com um projeto que tenta jogar nas costas do trabalhador a conta de uma crise que não foi criada por eles.

“Estado mínimo”

A velha palavra de ordem neoliberal esta na moda novamente. Apontando um caminho que nós sabemos muito bem onde nos levará. Estes senhores parassem se esquecer que foi a logica neoliberal que trouxe a situação catastrófica que nos encontramos hoje. Parecem se esquecer que foi as politicas neoliberais que culminou com a crise que eclodiu nos EUA e na Europa em 2008. A verdade é que não esqueceram, estão apenas fingindo, o que eles sabem fazer com maestria.

Enxugar a maquina pública

O corte de ministérios tem sido apontado como uma das soluções para superar a crise politica, econômica e social que vivemos no Brasil. Tal proposta vai de encontro com a logica neoliberal da politica de estado mínimo – que na verdade é mínimo para o trabalhador e máximo para o capital. Deixemos de ingenuidade, não será cortando ministério que resolveremos a crise que o país enfrenta. O problema não é o numero elevado de ministério, que sinceramente não sei se é tão elevado assim. O problema é a logica de funcionamento dos mesmos. É o loteamento de cargos, é o aparelhismo politico partidário e a corrupção existente nestes órgãos. Ai sim esta o problema.

Esquerda x Direita

Essa falsa polarização entre esquerda x direita que estão tentando nos enfiar goela abaixo hoje no Brasil não existe. É uma disputa que infelizmente não esta colocada em pauta. Digo infelizmente por que gostaria muito que assim fosse, mas não é. A disputa que esta colocada hoje não são entre projetos antagônicos, salvo pequenas diferenças, PT e PSDB representam projetos complementares.

Desde quando um governo que tem em sua composição PT, PMDB, PR, PP, PRB, PROS, PC do B, PSD entre outros pode ser considerado de esquerda? Um governo que privatiza, retira direto dos trabalhadores e criminaliza a luta do movimento popular? Tentar colocar nas costas da esquerda as ‘merdas’ que o atual governo faz é pilantragem. Tal discurso busca apenas confundir a população. E que acaba sendo reproduzido por uma cambada de ingênuos que trocam alhos por bugalhos. Massa de manobra que faz de boatos verdades absolutas.

A revolução não será televisionada

Não há como não comparar à cobertura da mídia brasileira das manifestações lideradas pela direita com o papel da imprensa venezuelana no episódio do golpe contra o governo Hugo Chaves retratado no documentário ‘a revolução não será televisionada’. Percebe-se muito bem a que interesses estes senhores da grande impressa na América latina servem. Até quando vamos esperar para fazer uma reforma agraria na mídia brasileira e latino americana?

Boas exceções 

Recentemente com um especial intitulado ‘Trotsky e a lata de lixo da historia’ da TV Brasil no programa observatório da imprensa. O especial que foi dividido em dois episodio resgata a historia e o pensamento desse grande revolucionário da causa socialista. Mostrando que o seu pensamento esta mais atual do que nunca, sobretudo nesse período de avanço de ideias conservadoras. O programa mostrou magistralmente que Leon Trotsky esta hoje no lugar onde deveria esta e não na lata de lixo que o stalinismo tentou lhe jogar. Aqueles que o assassinaram é que hoje estão na lata de lixo da historia.

Diante disto não poderíamos deixar de falar que a imprensa brasileira não é feita apenas de reacionarismos. E a TV Brasil e o programa Observatório da Imprensa são gratas exceções.

Carta à nação

O manifesto assinado pelas principais organizações patronais apontando saídas para crise politica, econômica e social mostra que a direita esta unida e tem um projeto definido para o Brasil. Enquanto a esquerda bate cabeça e briga entre si.

É isso por enquanto...

Pedro Ferreira Nunes

Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Crônica: E os muros invadem o interior.

Quem anda pelas ruas de alguma cidade do interior tocantinense dificilmente encontrará aquela famosa cena de pessoas sentadas na porta de suas casas conversando animadamente com os seus vizinhos a cerca de questões cotidianas. Infelizmente essa cena tornou-se algo raro de si ver pelo interior. As ruas da cidade estão vazias, enquanto as pessoas estão escondidas atrás de muros.

Isso mesmo –muros. Os muros tornou-se uma presença cada vez mais constante nas residências de cidades interioranas. O que era raríssimo há doze anos tornou-se comum. Os muros se propagam isolando as pessoas em suas residências privando-as do que o interior tem de melhor que é a convivência harmoniosa entre as pessoas e a paisagem exuberante.

Os muros são comuns em grandes cidades, especialmente nas capitais. Aonde as relações sociais são mínimas. Muitas vezes você passa um mês ou mais sem ver o seu vizinho do lado, sem trocar uma palavra com ele. Pois cada um esta preso em suas casas, em suas vidas – esquecessem-se de si relacionar com quem esta do seu lado. E agora tal realidade também esta chegando no interior.

Antigamente eram até comum as cercas de pau ou de arame farpado no interior. Esta, no entanto não isolava as pessoas. Era mais uma proteção para que animais não invadissem os quintais para comer a plantação. Aliás, as plantações de legumes, verduras e frutas são cada vez mais raras nos quintais, agora é o cimento que reina ou então o uso de veneno para matar os matos e que acaba matando também o solo.

Hoje em dia o muro tornou-se um objeto de desejo de todos aqueles que têm ou conseguem adquirir uma casa. O que mais ouvimos daqueles que ainda não construíram o seu muro é que não veem a hora de conseguir. Tal obsessão si dá pela busca de privacidade e segurança. Pelo menos é isso que dizem.

O fato é que não é se escondendo atrás de muros que estaremos mais protegidos. Si assim fosse os índices de criminalidade nas grandes cidades seriam mínimas. Outro fato é a questão da privacidade – ora, que privacidade quando nós mesmos publicizamos toda a nossa vida através das redes sociais?!

Aliás, as redes sociais é um muro bem mais perigoso do que o muro de concreto e de tijolos. As redes sociais cria um muro virtual dentro de nossas próprias casas, entre as pessoas que vivem sobre o mesmo teto. E assim, cada dia que se passa vamos ficando mais isolados e sozinhos. Pois nossas relações virtuais são apenas relações virtuais. No entanto as pessoas estão tão fechadas dentro de si que são incapazes de perceber que si tornaram escravas de um mundo de ilusões. Que estão presas em celas criadas por elas mesmas.

Mais ainda há tempo. Que os muros virtuais e reais possam cair. Que ao menos uma vez por semana possamos ocupar as calçadas em frente nossas casas – ascender uma fogueira, preparar um mate ou um cafezinho, picar aquele fumo de corda e conversar sobre as questões cotidianas da nossa cidade.

Pedro Ferreira Nunes

Poeta, Escritor e Educador Popular.

Sobre a questão da regulamentação do transporte alternativo de vans na capital

Meus camaradas; 

Inicialmente não tinha nenhuma intenção de escrever sobre essa questão. Mas após ver as declarações de um porta voz da prefeitura num telejornal local que teve a cara de pau de justificar o decreto como necessária para garantir maior segurança aos usuários do serviço - não me segurei e decidi tecer alguns comentários sobre este tema.

O decreto que a prefeitura de Palmas aprovou nos últimos dias regulamentando os serviços prestados pelo transporte alternativo de vans a passageiros que circulam do interior para capital e vice-versa. Estabelece que as vans não poderão mais buscar ou deixar passageiros em suas residências ou na de parentes no caso das pessoas que vem do interior para visitar familiares ou resolver questões pessoais e profissionais na capital. A partir de agora as vans só poderão pegar e deixar passageiros em pontos específicos estabelecidos pela prefeitura além da rodoviária é claro.

Como disse anteriormente – a principal justificativa para tal mudança segundo a prefeitura é garantir maior segurança aos passageiros. Mas sabemos que não é bem assim. O objetivo é outro, e passa muito longe da preocupação com a segurança dos usuários desses serviços. Nesse sentido a gestão Carlos Amastha (PSB) deveria ser mais honesta com a população palmense e do interior do Tocantins.

Ora, esta muito claro que a preocupação do prefeito não é com a segurança do usuário, ao contrario, tal mudança visa simplesmente favorecer a um setor do empresariado palmense, sobretudo os que controlam os serviços de taxi e moto-taxi. É mais uma ‘regulamentação’ tal como outras que já foram feitas na gestão Carlos Amastha que visa onerar os usuários e favorecer os empresários. Pois agora em vez de pegar um transporte, o passageiro terá que pegar outros para chegar ao seu destino.

Dizer que tal mudança se dá pela preocupação com a segurança do usuário, é duvidar da nossa capacidade de raciocinar. Pois se há um lugar onde as pessoas não estão seguras em Palmas são nos pontos de ônibus. Por tanto tal mudança em vez de dar maior segurança ao usuário, estará o deixando mais vulnerável.

Poderíamos também falar do prejuízo para as pessoas do interior que vão a capital, que não conseguem se locomoverem na cidade, sobretudo os mais idosos. Antes se podia contar com um serviço que os levava e os traziam até o seu destino – dando-lhes mais conforto e comodidade. Agora terão que se virarem como puderem, gastando mais dinheiro para resolverem o que tiver que resolverem na capital.

Nos últimos dias vi muita gente defendendo o decreto da prefeitura de Palmas, incluindo jornalistas e comentaristas políticos de nome – posso afirmar com certeza que estes senhores não utilizam tal serviço, como também não tem o mínimo de sensibilidade com as questões coletivas. Se ao menos tivessem o cuidado de entrevistar os usuários de tais serviços teriam uma posição mais honesta.

 E dai surge outra questão – a forma autoritária que o decreto foi aprovado. Sem audiências publicas, sem discussão, sem debate. O prefeito simplesmente aprovou e enfiou goela abaixo dos usuários tal decreto. Ora que necessidade havia de mudar, mudar para pior, um serviço que vinha dando certo? Essa é a pergunta que muitos provavelmente estão fazendo. O prefeito Carlos Amastha (PSB) tem a resposta – onerar os usuários e favorecer os empresários.

É absurdo que só agora depois do decreto aprovado a prefeitura chame os setores envolvidos para o dialogo. O que só aconteceu devido à mobilização daqueles que fazem e necessitam do transporte alternativo de vans da capital para o interior. Nesse sentido foi anunciado que o decreto só vai entrar em vigor a partir do dia 15 de setembro. Esperamos que neste período os usuários do transporte alternativo de vans tanto do interior como da capital possam continuar mobilizados para que este decreto não vigore.


Pedro Ferreira Nunes – Educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

5 anos do blog – fazendo literatura de guerrilha ‘das barrancas do rio Tocantins.

Caros camaradas;

Criei o blog em 2010 com o objetivo de publicar e divulgar a minha literatura – poesia, contos, crônicas, artigos políticos entre outros. Especialmente questões relativas ao povo e a cultura tocantinense, pois apesar de morar em Goiás, o Tocantins continuava dentro de mim, bem como o desejo de um dia retornar para minha terra. Dai que naquele momento decidi colocar o nome do blog de ‘Pedro Tocantins’- afirmando assim a minha identidade tocantinense.

Nos idos de 2012 li um romance do escritor português Manuel Thiago que me marcou profundamente, tanto que me apropriei do titulo do livro e coloquei no meu blog, e é este nome que tenho utilizado – até amanhã, camaradas! Um nome que para mim é um tanto poético e que também provavelmente é o que os pouquíssimos leitores deste blog estão mais habituados.

‘Pedro Tocantins e Até amanhã, camaradas’ marcaram um período distinto deste blog e da minha literatura. E agora que estou mergulhado em um terceiro período, nada mais natural do que colocar um nome que representa isso. E o nome escolhido foi ‘Das barrancas do rio Tocantins’.

Há duas questões que me fizeram chegar a este nome e que gostaria de compartilhar com você meu caro camarada que de alguma forma aprecia isto que eu chamo de minha literatura e de literatura de guerrilha. Primeiro, cheguei a tal nome influenciado pela musica do Elomar Figueira Mello – pela sua poesia, pelo seu jeito peculiar de cantar o sertão. Aliás, não existe no Brasil alguém que canta tão profundamente e tão magistralmente o sertão como Elomar Figueira Mello. Recomendo aqueles que querem conhecer sua obra a ouvir – das barrancas do rio Gavião. Disco de 1972.Dai que ‘das barrancas do rio Tocantins’ não é mera coincidência, é sim influencia da musica do Elomar.

A segunda questão é o fato de que mais do que nunca é das barrancas do rio Tocantins – onde nasci, cresci e vivo que nasce a minha literatura. Para quem não sabe sou natural de Miracema, cidade onde vivi até os meus 11 anos de idade. Depois me mudei com a família para o Lajeado onde vive até os 19 anos. Depois fiquei uma temporada de oito anos perambulando em terras goianas e no inicio de 2013 retornei para o Tocantins, para a pequena e pacata cidade de Lajeado.

E é a vida interiorana, ribeirinha, campesina que tem me influenciado no ultimo período. A vida do povo tocantinense, do povo lajeadense, do povo miracemense – seus costumes, sua cultura popular, suas angustias, suas lutas. Sim meu camarada, posso lhe afirmar que no ultimo período minha literatura, si é que o que eu escrevo pode ser classificada assim, provavelmente os críticos catedráticos diriam que não, tem se tornado regionalista. Ou talvez sempre tenha sido não é mesmo?! Pois mesmo quando vivemos longe do Tocantins, o Tocantins continua dentro de nós.

Bem meus camaradas – chegamos ao quinto ano de existência do blog. Poderia parafrasear Antônio Abujamra dizendo que continuamos ‘caminhando no incerto e idolatrando a duvida’. E de que pelo fato de ninguém lê-lo, tenho total liberdade para escrever o que quiser. E assim vamos continuando – agradando uma dezena, incomodando uma centena e sendo ignorado por milhares.

Por fim meus camaradas, como disse no inicio – não é a primeira vez que mudo o nome do blog, mas espero que esta seja a ultima. Sei que os raríssimos leitores que o visitam não se incomodaram. Tal como não si incomodaram das duas outras vezes que mudei. Até por que o conteúdo do blog que é o mais importante não mudará. Assim espero continuar alcançando as poucas mais de 200 visualizações mensais, e se não, tanto faz. Continuarei escrevendo do mesmo jeito – literatura de guerrilha, anticapitalista, subversiva e revolucionária.

Atenciosamente,

Pedro Ferreira Nunes

Poeta, escritor e educador popular.