quarta-feira, 5 de setembro de 2018

O que não se deve fazer no ensino de Filosofia: Algumas questões sobre o papel da avaliação.

“[... avaliar... é uma atividade que põe em questão a nossa própria concepção de educação...]”. 
Savian Filho

Planejamento, diálogo e processo avaliativo;

Em uma disciplina do curso de licenciatura em Filosofia da Universidade Federal do Tocantins tive uma experiência bastante significativa que me fez querer refletir sobre o papel da avaliação no ensino de Filosofia. Uma experiência que vale a pena ser refletida não no sentido do que se deva fazer, mas sim do que se deva evitar.

No primeiro dia de aula o professor apresentou o plano de disciplina e neste estava contido como seria o processo avaliativo – que teria uma parte teórica e outra prática. Sendo que o peso de cada uma dessas partes na somatória da nota seriam iguais, isto é, 50% teoria e 50% prática. Até ai tudo bem. Quando se faz um planejamento colocamos no papel a nossa intencionalidade. No entanto é preciso ter sensibilidade (ainda mais quando se diz ser um educador progressista) para flexibilizar o planejamento a partir do contato com a realidade da sala de aula e as especificidades que ali surgiram. O que significa que se o planejamento pode e deve se modificar o processo avaliativo também tem que se modificar como reflexo dessa mudança.

Nessa linha é importante o que diz Gallo (2010) de que “[... cada professor, no contexto de seu trabalho, precisa criar os mecanismos próprios que lhe permitam perceber o desenvolvimento dos estudantes, podendo intervir para seu aprimoramento, uma vez que este é o único sentido aceitável para um processo avaliativo...]”. Ora, não levar em consideração o desenvolvimento do estudante no processo avaliativo, mas apenas buscar a nota pela nota, não há de fato nenhum sentido. Gallo é enfático ao dizer que podemos e devemos intervir para que esse processo de aprendizagem se aprimore. O que não é possível num processo avaliativo fechado.

Não foi isso que aconteceu com o nosso professor. Mesmo ele reconhecendo que no decorrer da disciplina havia priorizado mais a parte teórica do que a parte prática. Ainda assim, insistiu no mesmo método avaliativo, não modificando nada do que fora apresentado no primeiro dia de aula. Mesmo que visivelmente o que fora planejado não foi o executado na sua totalidade. 

E mesmo que cerca de 80% da disciplina tenha sido focada na parte teórica ele manteve o peso igual das avaliações. Ignorando totalmente o questionamento dos estudantes. E pior, numa postura totalmente autoritária negou-se ao diálogo – impondo o que ele acreditava que era o correto. Uma postura bastante reveladora da sua opção pedagógica. É o que nos diz, por exemplo, Savian Filho (2016) que “[... avaliar... é uma atividade que põe em questão a nossa própria concepção de educação...]”. 

Não se engane com discursos progressistas e práticas conservadoras como a do nosso nobre professor que se diz aliado à tradição marxista na educação e tem Paulo Freire como referência. Mas na prática se esquece de um ensinamento vital em Freire que é o diálogo. “[... E o que é o diálogo? É uma relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade (Jaspers)... só o diálogo comunica...]”. Já o antidiálogo que foi praticado pelo nosso professor e que encontramos em muitas salas de aula “[... implica numa relação vertical de A sobre B... É acrítico que não gera criticidade... por tudo isso, o antidiálogo não comunica, faz comunicados...]”. E é justamente no processo avaliativo que estas questões ficam mais claras. É no processo avaliativo que se revela uma opção que muitas vezes se tenta camuflar.

Há aqueles que buscam justificar a opção por tais processos avaliativos através do discurso de que o sistema de ensino nos limita bastante. E de fato há uma pressão muito grande do Estado no sentido de processos avaliativos que correspondam a interesses de organismos internacionais que avaliam a qualidade da educação através do resultado dos estudantes em provinhas e provões. Sobretudo no ensino médio. No entanto não devemos nos acomodar nesse discurso. Temos sim certa autonomia para subverter determinadas imposições. Na academia então (onde aconteceu o exemplo trabalhado aqui) essa possibilidade é ainda maior.

A questão da avaliação no ensino de Filosofia;

A primeira questão que se deve ter claro em relação à avaliação no ensino de Filosofia é que não há um receituário pronto e acabado que devemos seguir. Dai que devemos ter em mente o que diz Silvio Gallo (2010) sobre a necessidade de elaborarmos um processo avaliativo a partir do contexto que estamos inseridos. Um processo avaliativo que leva em consideração o desenvolvimento do estudante, e que podemos e devemos intervir para aprimora-lo.

Ainda de acordo com Gallo (2010) “[... devemos nos ater menos àquilo que o estudante eventualmente assimilou dos conteúdos que foram transmitidos, mas precisamos nos preocupar em avaliar em que medida ele foi ou não capaz de aproximar-se da experiência do pensamento conceitual...]”. Tal afirmação vai na linha do que foi colocado anteriormente de que não há um modelo de avaliação no ensino de Filosofia. No entanto aponta para necessidade de uma avaliação que prioriza o “saber como” mais do que o “saber que”. Por que isso se dá? Por que a filosofia tem um caráter diferente das outras disciplinas. 

Para Murcho (2008) a filosofia se distingue de outras disciplinas por apresentar poucos resultados consensuais, dando-lhe um caráter em aberto. Porém, “[... defender que a filosofia é fundamentalmente uma disciplina em aberto não é necessariamente o prelúdio de um elogio ao permanente “questionamento” sem rumo...]”. Fazer isso seria cair no equivoco que o filósofo Mario Ariel Gonzalez Porta (2017) diz que muitos fazem por não compreender que “[... o núcleo essencial da filosofia não é constituído de meras convicções, mas de problemas e soluções...]”. Dai que ele estabelece o “problema como base de estudo da filosofia”. 

Seguindo essa linha, defendemos que a avaliação em Filosofia também tenha esse caráter em aberto. E aos que criticam essa perspectiva, recorremos mais uma vez a Murcho (2008) ao afirmar que “[... o caráter aberto da filosofia em nada diminui o seu valor cognitivo e social, a sua seriedade acadêmica ou escolar, ou a sua importância existencial...]”. Outro aspecto importante em relação à avaliação no ensino de Filosofia é o que trás Savian Filho (2016) de que “[... os estudantes não podem ser avaliados pelo tipo de engajamento ético-politico que adotam... mas pelos recursos que conseguem acionar para justificar suas posições...]”.

Savian Filho (2016) também chama atenção para o fato de que não devemos avaliar o desempenho dos estudantes apenas com base nos objetivos e expectativas que estipulamos. Foi o que ocorreu com o exemplo do professor que descrevemos acima. Caminhar nesse sentido é ter uma boa probabilidade de se frustrar. 

Ainda de acordo com Savian Filho (2016):

Não se trata aqui de pensar que avaliar é atribuir notas; nem de insinuar que nossa atividade de docência consiste em apresentar conteúdos complexos, para, depois “fechar os olhos” e aceitar resultados que não correspondem à complexidade dos assuntos. Pelo contrário, trata-se de desenvolvermos uma atenção especifica a cada estudante ou a cada grupo de estudantes, sem adotar um padrão avaliativo definido apenas pelas expectativas, ainda que sejam sempre as melhores. (2016; 417).

Savian Filho (2016) aborda dois tipos de avaliação. A avaliação diagnóstica e a avaliação classificatória. Sendo que é mais comum no ensino de filosofia a primeira - que permite ao educador o reconhecimento do desenvolvimento cognoscitivo do estudante “apresentado na sua capacidade discursivo-filosófica”. Já a avaliação classificatória tem como finalidade averiguar o desempenho. Na perspectiva de Savian Filho (2016): 

não deixa de ser importante expor os estudantes a esse tipo de avaliação... no entanto, justamente tendo em vista o desenvolvimento de competências cívicas, exige-se de nós, professores, um cuidado pedagógico redobrado, a fim de não associarmos à avaliação classificatória um sentido de incentivo à concorrência ou à afirmação narcisista de si.

Diante do exposto voltamos a nossa questão inicial: O que não se deve fazer no ensino de Filosofia, especificamente em relação ao papel da avaliação? Não se deve fazer um processo avaliativo fechado, calcado nas nossas expectativas. Também não se deve fazer um processo avaliativo que não leve em consideração a realidade da sala de aula e a especificidade de cada estudante. Ainda, não se deve fazer um processo avaliativo autoritário e antidiálogico. Por fim, não se deve fazer, pois é inaceitável, um processo avaliativo incoerente, onde prática e teoria estão em campos opostos.

*Pedro Ferreira Nunes – É graduando do Curso de Licenciatura em Filosofia da Universidade Federal do Tocantins – UFT.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS  

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 27ª ed. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.

GALLO, S. Ensino de Filosofia: Avaliação e Materiais Didáticos. In Gabriele Cornelli; Marcelo Carvalho; Marcio Danelon (Org.). Coleção Explorando o Ensino – Vol. 14: Filosofia. 1ª ed. Brasília. Ministério da Educação, 2010, v. 14, p. 159-170.

MURCHO, Desidério. A Natureza da Filosofia e o seu Ensino. Edu. e Filos., Uberlândia, v 22, n 44, p. 79-99, jul/dez, 2008.

PORTO, MARIO ARIEL GONZALEZ. A filosofia a partir de seus problemas - Os momentos essenciais do “modo filosófico de pensar”.   São Paulo: Ed. Loyola, 2002.

SAVIAN FILHO, Juvenal. Filosofia e filosofias: existência e sentidos. 1. ed. – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Um poema para fechar Agosto

O enterro do cachaceiro

O defunto foi enterrado,
pobre coitado,
não deixou um tostão furado.
- O defunto foi enterrado.

Ninguém foi ao seu velório,
poucos viram ele ser enterrado.
Morreu como viveu,
sozinho e abandonado.

Já teve família,
amou e foi amado.
Mas pela cachaça
jogou tudo para o alto.

Seus companheiros
não foram ao enterro.
Preferiram beber cachaça
e lembrar o amigo vivo.

No pobre cemitério,
o coitado foi enterrado.
Ninguém derramou uma lagrima
ninguém sentirá sua falta.

Ninguém foi ao seu velório,
poucos viram ele ser enterrado.
Morreu como viveu
sozinho e abandonado.

Pedro Ferreira Nunes
Casa da Maria Lucia. Lajeado -TO. Verão de 2018.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

A Reforma Administrativa do governo Carlesse: Mudar para não mudar.

“a desqualificação do Estado tem sido, como é notório, a pedra-de-toque do privatismo da ideologia neoliberal: a defesa do “Estado mínimo” pretende, fundamentalmente, “o Estado máximo para o capital””.
José Paulo Netto

A reforma administrativa do governador Mauro Carlesse (PHS) mostra que ele está seguindo a mesma linha dos seus antecessores. Até o discurso utilizado para justificar as mudanças na estrutura governamental é quase uma copia da justificativa da Reforma Administrativa do governo Siqueira Campos em 2013 e a do governo Marcelo Miranda em 2016 – reduzir os gastos com a máquina pública e melhorar a prestação de serviços a população.

Quando da última reforma administrativa do governo Marcelo Miranda (2016) o discurso era que o governo do Tocantins precisava se ajustar a um novo momento. Essas medidas deveriam racionalizar os gastos públicos, mas também garantir que os serviços prestados pelo Estado, fossem ainda, de melhor qualidade. No seu último mandato Siqueira Campos também fez uma reforma administrativa. O discurso era que “a reforma visa eficiência em primeiro lugar. Em segundo, a redução dos custos. Com essas mudanças, a meta é fortalecer as secretarias e torna-las eficientes para que desenvolvam um bom serviço ao cidadão tocantinense”. (2013)

Na prática as reformas administrativas dos governos Siqueira e Marcelo Miranda foram completamente ineficazes em cumprir o que prometiam. Tanto que logo foram necessárias outras reformas. Mostrando que não eram modelos de gestão tão eficazes assim, como se vendia. Com Carlesse não será diferente. E nem com outro que por ventura for eleito e que proporá a sua reforma administrativa.

É importante ressaltar que a reforma administrativa do Governo Miranda serviu como cortina de fumaça para aprovação do “pacotão de impostos”. A tática era simples, com a reforma administrativa o governo estava dizendo: - vejam, estamos cortando na própria carne. Vocês também precisam se sacrificar um pouco mais pagando mais impostos.

Com a atual reforma administrativa o governo Carlesse promete uma economia de 2 milhões ao ano. Além de melhorar a eficiência, qualidade dos serviços prestados a população e reduzir os gastos públicos. Por fim, ainda afirma que “não dá mais para população pagar tantos impostos e não ver o benefício retornar”. Bonito isso não?! No entanto não seria mais eficaz fazer uma reforma tributária em vez de reduzir algumas secretarias? Ou então começar revogando o ajuste fiscal do então governador Marcelo Miranda, que aumentou impostos sobre a população, quando Carlesse presidia a Assembleia Legislativa?

Não camaradas, não se iluda com o belo discurso liberal. Eficiência, melhoria na qualidade dos serviços prestados e redução dos gastos públicos? Isso é apenas discurso. Na prática essa reforma administrativa serve apenas para maquiar a realidade. Si diz que esta mudando, mas é uma mudança aparente. É um mudar para não mudar. É um mudar para continuar como está. Isto é, alguns poucos usufruindo das benesses do poder enquanto a maioria paga a conta.

Eis ai o que os neoliberais defensores do Estado mínimo não falam. Não falam por que não dá voto. É melhor dizer que irá tornar a máquina pública mais eficiente, melhorar a qualidade dos serviços prestados e reduzir gastos públicos. E de fato é o que faram, tornaram a máquina pública mais eficiente na exploração dos trabalhadores, melhoraram a qualidade dos serviços prestados a um determinado setor da sociedade e reduziram os gastos públicos, mas das áreas sociais.

José Paulo Netto (2010) chama atenção para o fato que “a desqualificação do Estado tem sido, como é notório, a pedra-de-toque do privatismo da ideologia neoliberal: a defesa do “Estado mínimo” pretende, fundamentalmente, “o Estado máximo para o capital””. 

Nesse contexto “o grande capital, implementam a erosão das regulações estatais visando claramente à liquidação de direitos sociais, ao assalto ao patrimônio e ao fundo públicos, com a “desregulamentação” sendo apresentada como“modernização” que valoriza a “sociedade civil”, liberando-a da tutela do “Estado protetor” – e há lugar, nessa construção ideológica, para a defesa da “liberdade”, da “cidadania” e da “democracia”. (Netto, 2010. p. 20-21)

É o caminho que o governador Mauro  Carlesse tem trilhado. E a atual reforma administrativa do seu governo mostra isso de maneira incontestável. De modo que se vencer a eleição em outubro, permanecendo quatro anos a frente do executivo estadual, o que veremos é o aprofundamento desse modelo nefasto para classe trabalhadora.

Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Algumas palavras sobre Siqueira Campos e as eleições no Tocantins

Após se lançar como candidato a senador da república aos 90 anos de idade, Siqueira Campos recuou, mantendo-se, no entanto, como suplente de Senador. A justificativa para tal decisão “é a saúde debilitada”. O que ficou evidente na convenção de Mauro Carlesse (PHS) realizada na Assembleia Legislativa. Quando ele chegou com o braço engessado sendo carregado por auxiliares (por não conseguir caminhar sozinho). 

Diante disso imagine qual a condição que o velho Siqueira teria para rodar todo o Estado do Tocantins fazendo campanha numa disputa que nos parece que será uma das mais acirradas – até mais do que a própria disputa pelo governo. Pois teremos vários candidatos competitivos – Vicentinho (PR), Halum (PRB), Ataídes (PSDB), Irajá (PSD) e Paulo Mourão (PT).

E imagine também se por ventura fosse eleito, terminaria o mandato com quase cem anos de idade. Isso se ele não se encontrasse antes com “o único mal irremediável” como diria Suassuna no seu belo “O auto da Compadecida”.  Não, não estou agoirando o velho Siqueira. O fato é que isso está nos “cálculos lógicos das probabilidades” como escreveu certa vez Ernesto Guevara. Sobretudo para quem já completou 90 anos de idade. 

Apesar de todo esse contexto não se pode negar que a candidatura de Siqueira Campos teria competitividade e também uma votação expressiva – ainda que não signifique que seria eleito. E é justamente por isso que ele permanece como suplente. Pois seu nome em si, trás um peso político inegável. Siqueira Campos já foi eleito governador do Tocantins quatro vezes e é tido por muitos como “o criador” do Estado – uma espécie de semideus. Mas esse peso político é ambíguo.

Se há aqueles que por um lado o colocam num altar como uma espécie de santo, por outro tem aqueles que não esquecem as perseguições políticas sofridas quando ele governava o Estado com uma chibata na mão. A questão é saber qual a narrativa se sobreporá. Nesse terreno de disputa que é a construção da memória coletiva e individual, darei a minha contribuição rememorando algumas questões sobre as quais a mídia oficial se silencia.

Comecemos, portanto, lembrando o superfaturamento na construção de pontes, que ganhou repercussão nacional. De acordo com o MPE os contratos superfaturados para construção de pontes teve inicio nos governos Siqueira Campos e tiveram continuidade nas gestões de Marcelo Miranda. Ainda de acordo com o MPE (2015) “as investigações envolve no total mais de 100 obras de construção de pontes, que apresentaram superfaturamento de preços, serviços pagos em duplicidade, entre diversas outras irregularidades que redundaram em lesão ao patrimônio público...”. (G1 Tocantins)

É bom lembrar também do escândalo de corrupção na Secretaria de Cultura que veio a tona no seu ultimo mandato de governador. De acordo com denúncias veiculadas na imprensa regional recursos públicos eram desviados para financiar eventos privados. Essas denúncias levaram a saída da então Secretária de Cultura – Katia Rocha. E depois a extinção da pasta.

Não custa lembrar também a forma que terminou ultimo mandato de governador do velho Siqueira, com ele renunciando o cargo numa manobra política para tentar viabilizar a eleição de um aliado. O que não ocorreu já que sua popularidade não era das melhores. Inclusive, o seu candidato (Sandoval Cardoso) fez de um tudo para descolar sua imagem da dele. 

Isso só para citar fatos recentes. Mas Siqueira Campos também tem no currículo a entrega dos bens públicos do povo tocantinense para iniciativa privada através de privatização. Aliás, o Tocantins, sob o seu governo, foi o primeiro Estado a privatizar a companhia de Energia Elétrica (CELTINS) – como saldo temos um serviço de péssima qualidade e uma das tarifas das mais caras do Brasil. Mesmo sendo um Estado produtor de energia elétrica.

Siqueira Campos não será mais candidato, menos mal. No entanto não estará ausente da disputa. Sua imagem será usada amplamente por aliados e ele aparecerá com o discurso demagógico de amor ao Tocantins. E infelizmente muita gente cairá nesse engodo. Como superar isso? Com certeza não será do dia para noite. Porém podemos iniciar fazendo uma contracampanha, não só contra Siqueira Campos, mas também contra todas as candidaturas que representam os interesses do modelo hegemônico de desenvolvimento no Tocantins.

Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Tocantins: Virando uma pagina de sua história?!

O Tocantins celebrará em outubro próximo 30 anos de sua criação. Justamente no mês em que a população irá às urnas eleger um novo governador para comandar o Estado nos próximos quatro anos. E essa será uma eleição histórica já que não teremos nem Siqueira Campos ou Marcelo Miranda como candidatos a governador. 

De modo que independente de quem será eleito em outubro, ainda que seja um candidato que tenha o apoio dessas duas figuras, será um marco histórico que colocará fim a um longo ciclo da história política do Tocantins – um ciclo marcado pela hegemonia política de duas famílias. Um ciclo que perdura há seis eleições regulares consecutivas.

Exatamente, nas ultimas seis eleições para o governo do Tocantins tivemos a presença ou de Siqueira Campos ou de Marcelo Miranda (quando se não dos dois) como candidatos a governador. Sendo que em 1994 e 1998 ocorreu a eleição e reeleição de Siqueira Campos. Já em 2002 e 2006 foi à eleição e reeleição de Marcelo Miranda. Em 2010 tivemos a eleição de Siqueira Campos. E em 2014, Marcelo Miranda foi o eleito. 

Como se vê nesses 30 anos de história, em grande parte deles, o Estado do Tocantins se revezou na mão de duas famílias e seus lacaios. Hora tendo á frente do governo estadual a oligarquia dos Siqueiras, hora a oligarquia dos Mirandas. E qualquer um que vislumbrasse uma maior sorte no cenário político eleitoral precisava da benção de um desses dois. 

Isso foi sendo minado aos poucos, tendo como marco inicial a eleição de Raul Filho (então no PT) como prefeito de Palmas em 2004. Até chegar ao nível atual em que o apoio tanto de Siqueira Campos ou Marcelo Miranda já não é fundamental para uma eleição. É obvio que não se pode descartar o peso político dessas duas figuras, ainda mais quando estamos falando de um estado oligarca. Mas o fato é que é possível sim, se eleger sem a benção ou de Marcelo Miranda ou de Siqueira Campos. 

O que não nos parece ser possível é ser eleito ao governo do Estado sem o apoio de uma oligarquia. Foi o que perceberam Carlos Amastha (PSB) e Márlon Reis (REDE) que tanto criticavam, mas acabaram se aliando a essas oligarquias. De modo que não há muito que se comemorar, sobretudo por que o que se vislumbra no processo eleitoral vigente é a eleição de um governo populista.

E assim o Tocantins caminha para repetir o que ocorre no Brasil a nível nacional, isto é, funcionar como um pêndulo que hora pende para a oligarquia, hora para o populismo. De acordo com o filósofo Vladimir Safatle (2016) “esse pêndulo consegue puxar todos os atores políticos para um de seus polos, transformando-os em repetições de atores passados”.

De modo que se a população quiser verdadeiramente virar uma pagina na história política do Tocantins é preciso avançar para além desse pêndulo. Criando de acordo com as palavras de Safatle, “uma história que, até agora, não existiu”. 

Pedro Ferreira Nunes – É educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio. Cursou a faculdade de Serviço Social e atualmente é graduando de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

KARL MARX 200 ANOS – “Os cães ladram mais a caravana não para”.

PEDRO FERREIRA NUNES
GRADUANDO EM FILOSOFIA UFT.

INTRODUÇÃO

Um fato que não se pode negar são as afecções que Karl Marx desperta – seja de alegria ou tristeza, seja de amor ou ódio.  O fato é que não dá para ignora-lo, pois até mesmo aqueles que dizem que o seu pensamento é irrelevante para contemporaneidade curiosamente dedicam paginas e mais paginas para tentar convencer seus leitores dessa ineficiência. Ora por que perder tempo com a vida e a obra de alguém insignificante? 

O que se vê na contemporaneidade, especialmente na América Latina é uma espécie de paranoia antimarxista. No Brasil a paranoia antimarxista é tão grande que chega ao ponto dos defensores de projetos como o Escola Sem Partido e do fim da obrigatoriedade das disciplinas de filosofia e sociologia no Ensino Médio justificarem estes projetos com o argumento de que tais disciplinas servem para professores fazer doutrinação marxista nas escolas. Mas apesar dessa paranoia antimarxista as ideias de Karl Marx permanecem vivas e são de uma atualidade inquestionável. Nas palavras de Netto (2016) “[... sem Marx, nada compreenderemos da contemporaneidade...]”. 

Diante dessa questão é importante retomarmos a obra de Marx e não se limitar a reproduzir um discurso antimarxiano a partir da leitura de terceiros. Porém, não podemos nos limitar apenas a leitura de Marx, pois ainda de acordo com Netto (2016) “[... somente com Marx, e apenas com o que a tradição marxista já produziu, não teremos condições de compreendê-la radicalmente – para é óbvio, transformá-la radicalmente...]”. 

Nesse ano em que se celebra pelo mundo os 200 anos de natalício de Karl Marx não faltam posicionamentos contrários e favoráveis a sua obra. Diante dessa questão, nosso objetivo aqui é retomar brevemente a vida e a obra desse importante pensador e refletir o porquê mesmo com toda a tentativa de enterra-lo, Marx permanece vivo, e influenciando movimentos de resistência anticapitalista mundo afora. Dai o paralelo com o nome do álbum da banda carioca Planet Hemp – “Os cães ladram mais a caravana não para”.

KARL MARX: VIDA E OBRA;

Karl Marx é de uma família de origem judia. Nasceu em 05 de Maio de 1818, em Trévis (Trier) na Alemanha. Em 1835 ainda em Trier concluiu os estudos secundários. Em seguida matriculou-se na Universidade de Bonn, onde pretendia estudar Direito. Já em 1836 matriculou-se na Universidade de Berlim onde se aproximou das ideias de Hegel tornando-se um idealista de esquerda.

O jovem Marx participou diretamente das discussões e dos trabalhos do grupo de Berlim até 1841, quando voltou a Trier. Abandonando definitivamente a carreira de advogado, pretendia conquistar uma cátedra universitária após doutorar-se pela Universidade de Bonn. (Costa, 2018, p. sn)

Em 1842, aos 24 anos, Marx inicia sua carreira como jornalista no jornal Gazeta Renana. Impondo uma linha critica a este, no entanto ao perceber que os donos do jornal capitulam diante da pressão das autoridades a linha critica do jornal. Marx pede demissão. Em 1843 casa-se com Jenny, com quem terá 6 filhos, no entanto apenas  3 chegaram a idade adulta. É Nesse período que produzirá a “Crítica da Filosofia do direito público de Hegel”, o qual ficará inédito até 1927. De acordo com Costa (2018) “[... documento, que, sob a influência de Feuerbach, atacava o idealismo hegeliano. Foi considerado pelo próprio Marx, mais tarde, como um marco no caminho para o materialismo histórico, ao criticar a concepção hegeliana de Estado e abordar o tema da alienação política...]”.

Ainda em 1843 Karl Marx mais sua esposa Jenny parte para o exilio na França. E juntamente com um grupo de amigos cria a revista “Anais Franco-Alemães” que não passa do primeiro número publicado em 1844 que continha dois textos de sua autoria: A questão Judaica e Para a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. Introdução.

Desde a universidade, Marx havia adquirido o hábito de compilar resumos de obras, acompanhados por suas reflexões críticas. Os chamados Manuscritos de Paris foram produzidos a partir de seus apontamentos sobre obras clássicas de Jean-Baptiste Say, Adam Smith, David Ricardo e James Mill, que lhe permitiram desenvolver as primeiras avaliações sobre os conceitos de valor e preço. (COSTA, 2018, p. sn)

O ano de 1844 é marcado pela aproximação de Marx do movimento operário francês e do inicio da amizade com Friedrich Engels que o influenciará decisivamente. Nesse período Marx escreve os “Manuscritos Econômico-Filosóficos” que serão publicados somente em 1932. A partir dai, de acordo com Costa (2018):

a teoria crítica do jovem hegeliano de esquerda se transformava numa ontologia materialista: Marx começava a enxergar o homem como um ser prático e social, em que a essência humana é histórica, ou seja, não existe uma “natureza humana” permanente e imutável, como queriam os filósofos liberais. O homem constitui a si mesmo centralmente por meio do trabalho, organizando as suas relações com os outros homens e com a natureza de acordo com o nível de desenvolvimento das forças produtivas e dos meios de produção, pelos quais se mantém e se reproduz enquanto homem.

Em 1845 Marx e Engels produzem conjuntamente “A Sagrada Família”. Neste mesmo ano é expulso da França por pressão do governo Prussiano devido ao incomodo que seus artigos publicados na revista Avante causam. Eles então partem para Bruxelas onde redigem “A ideologia Alemã” e as “Teses sobre Feuerbach”. De acordo com Costa (2018) “[... nestes textos Marx e Engels elaboraram as linhas mestras de sua concepção teórica da história, da sociedade e da cultura, neles se encontram os fundamentos do que veio a ser chamado de materialismo histórico...]”. Entre o final de 1846 e o inicio de 1847 Marx escreve “Miséria da Filosofia” obra na qual ele polemiza com Joseph Proudhon. Em agosto de 1847 juntamente com Engels funda a “Sociedade Operária Alemã”. 

Entre 1847 e 1848 escreve com Engels o “Manifesto do Partido Comunista”. De acordo com Costa (2018) “[... o manifesto representou, no plano teórico-político, uma marcante viragem histórica: é nele que se apresentava, de maneira inédita, um projeto social organicamente integrado a uma perspectiva de classe...]”. Marx é então expulso da Bélgica e retorna a Paris onde funda “A Nova Gazeta Renana”.

pobre como nunca, depois de passar uma vez mais por Paris, a partir de 1849 fixou-se definitivamente em Londres, onde  passou a dedicar-se integralmente aos seus estudos. Criou um novo jornal: a Nova Gazeta Renana, Revista Político-Econômica, onde, ao longo do ano de 1850, escreveu uma série de três artigos que fazia o balanço do movimento revolucionário francês. Acrescido de um quarto artigo dele com Engels, escrito em outubro de 1850, os textos seriam publicados bem depois, em 1895, com o titulo de As lutas de classes na França (1848-1850). (Costa, 2018, p. sn)

Entre o final de 1851 e o inicio de 1852 produz O 18 Brumário de Luís Bonaparte. Antes escreveu “Os cadernos de Londres”. Entre 1857 e 1858 escreveu os “Gundrisse” –elementos fundamentais para a crítica da economia política, publicado postumamente. Em 1859, é publicado “Contribuição à crítica da economia política”. No inicio de 1860 Marx se dedica também a militância política. Por exemplo, em 1864 ele apresenta o projeto de uma Associação Internacional dos Trabalhadores a qual é fundada e ele assume a tarefa juntamente com outros militantes de organizar os estatutos e o programa. Entre 1870 e 1871 escreve “A Guerra Civil na França”. A sua principal obra: “O Capital” é redigido entre 1866 e 1867. Em 1867 sai o livro I que irá analisar o processo de produção do capital. O livro II aborda o processo de circulação do capital. Já o livro III trabalha o processo global da produção capitalista.

a obra máxima de Marx unifica abordagens múltiplas no campo das ciências humanas, ao reunir elementos da economia politica, da sociologia, da história, da geografia, da demografia, da filosofia, e da antropologia. Partindo da critica da economia política, isto é, do estudo exaustivo do funcionamento do modo de produção capitalista, não se reduz a uma analise economicista da vida em sociedade, como querem seus detratores. (Costa, 2018, p. sn)

Marx ainda produziu as Glosas Marginais ao “Programa do Partido Operário Alemão”, que foi publicado por Engels em 1891 sob o titulo “Crítica ao Programa de Gotha”. Sua esposa Jenny falece no dia 02 de dezembro de 1881, o que o abalará muito. Sobre essa perda declarou: “meu espírito vive atualmente em grande parte absorvido pela recordação de minha mulher, que foi a melhor parte da minha vida”. Em março de 1883, dois meses depois da morte de sua filha, num dia 14 de março morre Karl Marx. Que foi definido por seu grande companheiro, Engels (1883) em discurso diante do seu tumulo no dia 17 de março como: 

Revolucionário. Cooperar, desta ou daquela maneira, no derrubamento da sociedade capitalista e das instituições de Estado por ela criadas, cooperar na libertação do proletariado moderno, a quem ele, pela primeira vez, tinha dado a consciência da sua própria situação e das suas necessidades, a consciência das condições da sua emancipação – esta era a sua real vocação de vida. A luta era o seu elemento. E lutou com paixão, uma tenacidade, um êxito, como poucos.... Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado do seu tempo. Governos, tanto absolutos como republicanos, expulsaram-no; burgueses, tanto conservadores como democratas extremos, inventaram ao desafio difamações a cerca dele.... o seu nome continuará a viver pelos séculos, e a sua obra também.

Os anos se passaram e as coisas não se modificaram tanto, Marx continua sendo odiado e caluniado. E tal fato se dá, sobretudo, por que seu nome continua vivo, presente em todas as frentes de luta que se levantam contra o capitalismo e tem sua obra como referência.

A ATUALIDADE DAS IDEIAS MARXIANAS

Para refletirmos sobre a atualidade das ideias de Marx recorreremos ao que dizem alguns pensadores contemporâneos. Especialmente José Paulo Netto, que é sem sombras de dúvidas a principal referência nos estudos da obra marxiana na América Latina. Além de autores como o filósofo esloveno Slavoj Zizek e Vladimir Safatle entre outros. Nessa linha começamos por destacar inicialmente o desconhecimento que se tem das obras de Karl Marx. Incluindo pessoas que se dizem marxistas, mas que, no entanto nunca leram Marx propriamente, mas sim interpretação de suas obras. É o que aponta Safatle (2018) no seu artigo “Marx, esse desconhecido”. 

De acordo com este autor (2018, p. sn):

Um retorno a Marx seria proveitoso para o nosso tempo. Pois a radicalidade da experiência prático-teórica chamada Marx vem, entre outros, da junção entre três níveis de exigências que muitos gostariam de dissociar: uma reflexão sobre liberdade e seu exercício, uma emergência de novos sujeitos políticos e sua força revolucionaria, uma critica implacável à vida possível no interior das sociedades capitalistas e em outras formas sociais incapazes de se fundar em estruturas de exploração e violência.

Se é fato que a sociedade capitalista atual é bem diferente da qual Marx viveu e produziu sua obra. Por outro lado é inegável que estes problemas refletidos por Marx continuam presente na contemporaneidade e ainda com um caráter mais perverso, sobretudo em relação à liberdade e seu exercício – um problema bastante desenvolvido por Marcuse na sua analise da sociedade unidimensional. Ainda de acordo com Safatle (2018) “[... que Marx seja um pensador da liberdade e da emancipação eis algo que vale sempre a pena lembrar. Sua pergunta fundamental não é apenas pelas condições sociais para a realização da liberdade, já que não posso ser livre em uma sociedade não livre...]”.

Em relação à atualidade do pensamento de Karl Marx, Slavoj Zizek destaca que só agora com o desenvolvimento pleno do capitalismo global é que a sua critica da economia política atingiu seu apogeu. De acordo com Zizek (2018) é preciso afirmar “[... não apenas que ainda hoje a critica da economia política de Marx, seu raio x das dinâmicas do capital, permanece totalmente atual, mas mais do que isso, afirmemos que é apenas hoje, com o capitalismo global, que, Marx atingiu sua plenitude...]”. Ainda de acordo com o filósofo esloveno é hoje com o desenvolvimento pleno do capitalismo que “a realidade atinge plenamente seu conceito”. Uma questão importante a se destacar é que para Zizek (2018) é necessário um retorno a Marx, pois está é “[... a única forma de não ser mais um “marxista”, mas sim de repetir o gesto fundador de Marx de uma nova maneira...]”.

Nessa linha o sociólogo norte americano Immanuel Wallerstein (2018) também reforça a necessidade de um retorno a Marx – de se ler as suas obras e não se limitar a estudar o que dizem dele. “[... precisam lê-lo. Não leiam sobre ele, leiam Marx. Poucas pessoas – em comparação com os muitos que falam sobre ele – leram Marx na realidade... Devemos ler pessoas interessantes, e Marx é o acadêmico mais interessante dos séculos XIX e XX...]”. O filósofo Marcelo Musto (2018) destaca também a militância política de Marx ressaltando que ele “[... não foi um mero acadêmico isolado no meio dos livros do British Museum de Londres, mas foi sempre um militante revolucionário envolvido nas lutas da sua época...]”.

Seguindo essa linha é importante ressaltar o que aponta o cientista político Michael Heinrich (2017) de que “[... não se pode deixar de lado a biografia de Marx. Trata-se de alguém que trabalhou não apenas como cientista, mas também como jornalista de intervenção política e como ativista revolucionário que integrava alianças, participava da criação de diferentes organizações e se envolvia em conflitos políticos...]”. 

Ainda sobre a atualidade do pensamento Marxiano, é importante destacar o que aponta Netto (2016) de que “[... o quadro mundial contemporâneo, inclusive a crise econômica atual, é absolutamente incompreensível sem Marx. Absolutamente incompreensível...]”. E destaca na sua visão lições fundamentais deixadas por Marx.

O que aprendemos com Marx? Primeiro: capitalismo é crise... Marx demostrou cabalmente que a crise é um constitutivo da dinâmica capitalista. Segundo: capitalismo é produção exponencial de riqueza social e reprodução simultânea e necessária de pauperismo... Mas não é só: veja a continua e recente concentração e centralização de capital... Uma quarta demonstração irrefutável da correção das projeções marxianas: o desenvolvimento desigual e combinado. (Netto, 2016, p. sn)

Em relações a essas questões, destacamos o livro do economista francês Thomas Piketty  “O Capital no Século XXI” onde a partir de um amplo levantamento de dados de diversos países aponta para o aumento da concentração de renda e da desigualdade na sociedade capitalista na contemporaneidade.  Corroborando com que já havia apontado Karl Marx nas suas obras.

Á TITULO DE CONCLUSÃO: OS CÃES LADRAM MAIS A CARAVANA NÃO PARA.

Tanto no seu tempo como nos nossos dias Karl Marx continua sendo caluniado e tendo suas ideias distorcidas. Dai a necessidade de lermos Marx para podermos compreende-lo e combater essas calunias e vulgarização das suas ideias. Essa vulgarização é feita pelos pseudos-marxistas, que no geral tem uma bela retórica, mas a prática está muito distante do discurso. E aleijar o pensamento de Marx da prática social numa perspectiva revolucionária é um crime. Percebo que essa vulgarização é bem comum na academia, por parte dos “marxistas de gabinete” que apresentam um discurso revolucionário, mas a prática é bem reacionária. O que estes senhores ditos “marxistas” fazem é um desserviço ao pensamento de Marx.

Já as distorções são obras de setores da intelectualidade a serviço das classes dominantes. Distorções que ganham força, sobretudo através das redes sociais e são reproduzidas por uma massa de alienados. 

O que se observa é que boa parte das criticas feita a Marx, é por um lado, falta de conhecimento do pensamento marxiano – criaturas que nunca leram se quer “O Manifesto do Partido Comunista”. Mas por que um liderzinho medíocre falou determinada coisa sobre Marx, se reproduz isso como se se tratasse de uma verdade absoluta. Por outro lado às criticas partem daqueles que conhecem muito bem a obra de Marx, e sabem o quanto é importante que os trabalhadores fiquem alheios a ela. Para que não ousem se libertar das correntes que lhes prendem.

É triste, sobretudo ver a juventude trabalhadora caindo nesse engodo. Reproduzindo um discurso reacionário e antimarxiano. E o pior é que quando você percebe que esse discurso antimarxiano é fundamentado numa visão distorcida de Marx. Pois tentam colocar na sua conta equívocos que não foram cometidos por ele – a lhe atribuir ideias que ele não defendeu. Mas isso não nos desmotiva, nos anima na luta anticapitalista. Sabendo como diz José Paulo Neto que “[... sem Marx, nada compreenderemos da contemporaneidade. Mas somente com Marx, e apenas com o que a tradição marxista já produziu, não teremos condições de compreendê-la radicalmente – para, é óbvio, transforma-la radicalmente...]”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

COSTA, Ricardo. Karl Marx 200 anos. Disponível em: https://pcb.org.br/portal2/1556/karl-marx-200-anos. Acesso em: 04 Mai. 2018.

ENGELS, Friedrich. Discurso Diante do Tumulo de Karl Marx. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/marx/1883/03/22htm. Acesso em: 20 Mai. 2018.

HEINRICH, Michael. Vida e obra: o significado político de uma leitura biográfica de Marx. Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2018/05/08/vida-e-obra-o-significado-politico-de-uma-leitura-biografica-de-marx/. Acesso em: 05 Maio. 2018.

MUSTO, Marcello. “Leiam Karl Marx!” Musto entrevista Wallerstein. Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2018/05/09/leiam-karl-marx-musto-entrevista-wallerstein/. Acesso em: 15 Mai. 2018.

Revista Novos Temas entrevista José Paulo Netto. Disponível em: https://pcb.org.br/fdr/indexphp?option=com_content&view=62:revista-novos-temas-entrevista-jose-paulo-netto. Acesso em: 22 Mai. 2018.

SAFATLE, Vladimir. Marx, esse desconhecido. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/. Acesso em: 04 Mai. 2018.

ZIZEK, Slavoj. A atualidade de Marx. Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2018/05/04/zizek-a-atualidade-de-marx/. Acesso em: 10 Mai. 2018.

* Trabalho apresentado na III Jornada Filosófica da UFT. Realizada de 23 a 25 de Maio de 2018. Palm



sexta-feira, 3 de agosto de 2018

ITAFOS, Crime Ambiental e um poema que escrevi há alguns anos

Recentemente uma noticia que dava conta da realização de uma audiência pública para resolver os danos causados por uma mineradora no leito do Rio Bezerra me chamou atenção. E para minha surpresa logo que comecei a ler a matéria descobri que a tal mineradora não me era desconhecida e nem a região em questão. Inclusive há alguns anos quando essa mineradora começou a operacionalizar nessa região escrevi um poema denunciando os impactos socioambientais e conclamando a população daquela localidade a se levantar contra a poderosa multinacional.

Era se não me engano os idos de 2012. Eu morava em Goiânia e atuava como Educador Popular junto a Rede de Educação Cidadã. E tinha como uma das minhas responsabilidades assessorar os movimentos sociais do sudoeste goiano. E como parte dessa responsabilidade vez e outra viajava para Campos Belos com a missão de contribuir na formação e organização do movimento social. Foi então que tomei conhecimento da chegada da ITAFOS – Mineração LTDA para desenvolver um grande projeto de mineração por ali.

A partir do que vi e ouvi de vários camaradas me veio à inspiração para escrever o poema intitulado “Campos Belos”. Um poema sem versos, sem rima. Que mais se assemelhava a um manifesto – a um chamada para resistirmos contra um modelo desenvolvimento, que não tínhamos nenhuma dúvida, impactaria negativamente aquela região especialmente em relação às questões socioambientais. E são exatamente essas questões que dou ênfase no poema.

O que estão fazendo com os teus belos campos?
Em nome de quem destroem suas serras e poluem teus rios?
Para onde estão levando os teus minérios?
De onde vêm essas maquinas que destroem o que só a ti pertence?
 Estão levando embora a riqueza de teus ancestrais.
Ora, onde reassentaram as comunidades quilombolas?
Estão escravizando tua juventude!
Estão usurpando teus recursos naturais!
Estão prostituindo tuas crianças!
As comunidades quilombolas serão apenas lembranças?
Teus campos já não estão tão belos,
Vai deixar ficar assim?
Acorde campo-belense, levante a tua voz
Proteja a tua terra, destrua a ITAFOS!

Pedro Ferreira Nunes, in Minha Poesia, 2014.

Voltemos à audiência pública. A mesma foi
realizada pelo Ministério Público Federal e contou com a presença de representantes do poder público e da sociedade civil dos municípios de Arraias (TO) e de Campos Belos (GO). No evento a população manifestou sua indignação com a degradação do rio. Denunciaram a queda no nível de qualidade da água e relataram que vem sendo orientados a não consumi-la. A população também denunciou o fato de não terem sido divulgados os estudos sobre os impactos socioambientais a partir da implantação da mineradora na região.

O que não é novidade, pelo contrário. A prática geralmente nesses casos é omitir da população os reais impactos socioambientais no sentido de evitar que o povo se posicione contrariamente ao projeto. Sendo que não raramente essa omissão conta com o apoio dos órgãos de fiscalização ambiental.

Ao final da audiência foi aprovado um termo de ajuste de conduta – conduta que não será ajustada. Pois falta firmeza por parte de quem deveria fiscalizar os excessos dessas empresas que buscam o lucro acima da vida. Fiscalizar e multar, fiscalizar e punir. Mas não é o que se faz. Passa se a mão na cabeça para que as coisas continuam como sempre. E piorando.

Quando escrevi o poema não podia imaginar que anos depois me depararia com uma noticia corroborando com o prognostico que eu havia feito. E agora esse poema que é na verdade um manifesto esta mais atual do que nunca. Espero que os movimentos sociais que atuam na região levem a cabo a tarefa de expulsar a ITAFOS dessas bandas. Pois esse é o único jeito de barrar os danos ambientais ocasionados pela mineração nessa região.

Pedro Ferreira Nunes – Poeta, Escritor e Educador Popular.